Benfica 2 - 0 Belenenses SAD

Sabem quando uma banda tem uma série de concertos seguidos e começa a levantar o pé em alguns? Continuam a ser bons e continuam a entreter o público, mas nota-se que o principal objectivo é sobreviver àquelas semanas infernais. E eu não consegui ver este jogo, mas o bom velho relato e os resumos da abençoada Internet deixaram-me com a ideia de que, mesmo com um ou outro susto, este jogo foi essencialmente uma gestão de esforço. Era para ganhar e ganhou-se, mas a seguir a banda toca nos Coliseus e por isso há que ter calma. Por isto mesmo, e por manifesta falta de ideias melhores, hoje faz-se um comparativo entre os principais intervenientes deste jogo e grandes nomes da Música:

Vlachodimos - Charlie Watts: os Rolling Stones andam há 100 anos a tocar à boleia do pé direito deste Senhor. O Benfica anda há 100 jogos e três épocas a evitar humilhações piores que o sexto lugar, à boleia das (nem sempre seguras) defesas do nosso guarda-redes Grego. Depois de alguns sustos, parece que finalmente atingiu a estabilidade. Ter um treinador que o insulta na sua língua nativa parece ter ajudado.

Gilberto - Max Cavalera: tal como o vocalista dos Sepultura, o nosso lateral-direito parece ter também uma mensagem importante e urgente para nos entregar. Mas tenta fazer tanta coisa ao mesmo tempo, que não conseguimos perceber se o rapaz está a querer declamar Shakespeare ou a cantar canções do Tiririca.

Otamendi - Sid Vicious: é olhado de lado por muita gente, incluindo aqueles que lidera. Dizem que não é assim tão bom e que não passa de uma jogada de marketing, feita para encher os bolsos a quem a potenciou. E talvez o tenha sido, mas o Punk precisava de John Simon Ritchie, como o Benfica precisava de mais um central experiente e como o Jorge Mendes precisava de mais uma comissão.

Vertonghen - Rick Wright: dois verdadeiros heróis silenciosos, mas essenciais para as obras primas de duas das maiores instituições do Mundo. Sem Rick Wright não havia metade da discografia dos Pink Floyd, sem Jan Vertonghen não havia metade da construção a partir de trás do Benfica.

Grimaldo - Axl Rose: dois furacões, dois poços de energia, com a diferença de que o vocalista dos Guns parece uma motorizada com escape de rendimento (obrigado Quim Roscas e Zeca Estacionâncio) e o Grimaldo tem uma voz surpreendentemente grave, olhando para o aspecto. Recentemente, ambos fizeram notícia por andarem com pés ligados.

Julian Weigl - John Paul Jones: a verdade é que, se os víssemos na rua, não dávamos nada nem por um nem pelo outro. Dois tipos absolutamente normais e absolutamente afastados dos holofotes, para dar espaço a que outros brilhem. Mas sem Jones não havia Stairway To Heaven e sem Weigl não havia o 2-0 deste jogo.

Rafa - Paco De Lucia: se conhecerem alguém que saiba fazer dessas coisas, peçam-lhe que faça uma montagem dos últimos jogos do Rafa com Tico Tico como banda sonora. E depois digam-me se não tenho razão.

Taarabt - Freddie Mercury: mas na fase em que o Freddie se lançou a solo, e ia dando cabo de tudo. Tal como Farrokh, o Adel é a estrela da companhia e sabe disso. Mas tal como Farrokh percebeu que precisava dos Queen, o Adel também tem que perceber que precisa dos colegas para ser tudo o que pode ser, e aprender a largar a bola mais cedo.

Everton - Tom Morello: tão capaz é um de aguentar o ritmo enquanto tudo explode à sua volta, como o outro é capaz de fazer um sprint de 60 metros para segurar a Equipa. E tão capaz é um de fazer um solo que rebenta o telhado, como o outro é capaz de pegar na bola e despachar meia Equipa adversária.

Darwin - Keith Richards: não é nenhum malabarista, nem tira cinco jogadores do caminho sem tocar na bola. Não é por ele que se paga o bilhete, mas cumpre sempre com o coração quando a qualidade não chega. Ainda assim, neste jogo Darwin tocou na bola, tirou dois adversários da frente e fez o primeiro de muitos golos no Campeonato. Teve que ser analisado pelo VAR como é óbvio, mas isso já nem se estranha.

Seferovic - Jimmy Page: eu sei, é estranho. Mas a verdade é que brilham ambos de uma maneira peculiar, num jeito despreocupado e trapalhão, mas tremendamente eficaz.

Waldschmidt - Mozart - é facílimo comparar um jovem valor teutónico a Wolfgang Mozart. E foi por isso que o fiz.

Pizzi - Tim: de acordo com muita gente, ambos tiveram demasiado tempo de antena e demasiadas oportunidades para aquilo que apresentam. Mas a Maior Banda do Mundo não era a mesma sem o Senhor António Manuel dos Santos, e o Maior Clube do Mundo também não era o mesmo sem o Luís Miguel Fernandes.

Nuno Tavares - Rui Reininho: os dois muito voluntariosos, os dois muitíssimo bons rapazes. Ambos têm a mesma fome de comer o Mundo, mas ambos têm a clarividência para o fazer de quem bebe um chá com cheiro estranho antes de ir trabalhar.

Samaris - Joe Strummer: Sid Vicious foi a cara do Punk, mas Joe Strummer foi o verdadeiro líder da revolução. O Otamendi apresenta-se com a braçadeira, mas o Samaris é o verdadeiro Capitão desta Equipa. Daqueles que acham que o Benfica não é uma passagem, é um destino. É um dos melhores exemplos que se podem dar para descrever o que é ser Benfiquista. "Então mas o Samaris não é Grego?" É. Mas o Benfica é do Mundo.

Pedrinho - Gary Clark Jr.: quando vi o Gary Clark, ele começou o concerto com um tímido e quase inaudível "boa noite", mas em estrangeiro. Depois abriu as goelas à guitarra e deixou todo o público de boca aberta a olhar para o que aquele rapaz franzino conseguia fazer depois de vencer a timidez. O Pedrinho já disse "boa noite", está na hora de deixar os pés gritar.

Jorge Jesus - Maestro Rui Massena: ah, enganei-vos! Estavam à espera de uma comparação com o Maestro António Vitorino de Almeida, não estavam? Pois, mas eu conheço mais do que um Maestro! Há o Almeida, o Massena e o outro. Aquele, o terceiro. Pois, esse.

CARREGA BENFICA!