Benfica 2 - 1 Bournemouth FC
- Filipe Pires
- 31 de ago. de 2020
- 4 min de leitura

Eu não sou católico. Ainda me tentaram educar no credo, mas o facto é que a única disciplina a que chumbei até vir para a Universidade foi Religião e Moral. Não por ser o Anti-Cristo, mas simplesmente porque não ia lá. Mas mesmo tendo todo este distanciamento em relação a esta e outras religiões, tenho a certeza que em todos textos sagrados de todas as religiões do Mundo, há alguma coisa que proíbe terminantemente qualquer tipo de carícias ao Messias. Mesmo que a religião seja o Benfica e que esse Messias seja literalmente Jesus. Toda a gente conhece o estilo eléctrico do Mister Chiclas, toda a gente sabe que o homem não pára no banco e que se farta de gritar quando está a ganhar, mas nem tanto quanto está a perder. Não é preciso, por isso, que haja um repórter da BTV destacado para nos dar conta de tudo o que o Treinador faz, como se nunca ninguém o tivesse feito antes. Nem que seja por uma questão de decência e alguma vergonha alheia.
Sim, a Equipa jogou bem e no Futebol importa aquilo que acontece dentro de campo. Mas isto é uma fase de transição, em que eu vejo um jogo do Benfica e sou obrigado a elogiar, porque pouca coisa corre mal. Deixem-me habituar a este novo normal, ainda mais estranho que uma pandemia global. Até porque há muita vergonha alheia para ser explorada nas transmissões da BTV. Tudo bem que a estação funciona numa frequência alugada a Pyongyang, em que o poder reinante deve ser elogiado a todo o custo, mas alguém devia explicar ao Hélder Conduto que, se todos os jogadores forem jogadores diferenciados, perde-se a diferença na sua diferenciação. E já que se fala desta utilização indiferenciada de um único adjectivo, falamos também da utilização indiferenciada de referências a velocidade sempre que o Rafa pega na bola. Só neste jogo, durante uma jogada que durou 10 segundos, disse-se que o Rafa conduzia a bola com Velocidade Furiosa, e ainda o compararam ao inocente Miguel Oliveira. Se a jogada tivesse demorado mais tempo, ou se o rapaz fosse um lateral esquerdo a arrancar pelo corredor - com o Jesus, é possível - ainda ouvíamos uma referência ao Faísca McQueen ou ao Sonic, se os comentadores se esquecessem que a personagem é azul.
Mas pronto, vamos lá afinar pelo diapasão de que o bom Benfiquista é o que só elogia e não critica, e vamos apontar coisas boas que se viram neste jogo. Por exemplo, o Seferovic já consegue dominar uma bola! Se a isto se juntar uma melhoria no rácio de cruzamentos acertados pelo Nuno Tavares e pelo André Almeida, fica aqui garantido que me vou juntar ao coro que faz piadas sobre os milagres de Jesus. A manobrar todo o meio-campo e ataque, estiveram dois jogadores cheios de força, mas por motivos diferentes. Adel Taarabt mostrou neste jogo uma energia que há três anos atrás teria sido considerada suspeita, mas que agora pode perfeitamente ser relacionada com muito trabalho e com um conjunto de instruções técnicas que se resumem a um muito simples: "Adel, tu agora vais lá para dentro e é para partir aquela m€#$a toda!". Já o Pizzi começou a nova época incansável, mas só porque terminou última época incansado. E eu sei que há melhores formas de fazer elogios, mas com o tempo chego lá.
Jogo de apresentação da nova época é sinónimo de gente nova a estrear-se. É por isso altura para mais uma edição de "Quem É Este Gajo?"
- Jan Vertonghen: não sei... pffft... as coisas que uma pessoa diz para fazer rir. É um jogador diferenciado, que veio para dar experiência à defesa e qualidade na saída de bola. Tudo coisas que, dirão pessoas mal intencionadas, já faziam falta na época passada. Mas é compreensível a demora, em Agosto passado não havia eleições à porta. Peço desculpa, não vou deixar que o meu mau feitio volte a influenciar a minha escrita.
- Everton Soares: não sei. É um jogador diferenciado que, no primeiro jogo na Luz, fez um golo que o vai fazer ser comparado a todos os extremos-esquerdos que alguma vez passaram pelo Benfica. Numa escala que vai de Freddy Adu a Simão Sabrosa, Everton está neste momento no sólido nível de um Gáitan quando chegou. Aguardamos para ver se chega ao nível de Di Maria, ou se acaba como um qualquer Sabry da Vida.
- Luca Waldschmidt: não sei. É um jogador diferenciado, que chegou para um lugar fulcral da equipa, onde perdemos dois jogadores no ultimo Verão e cuja perda foi colmatada com uma época de experiências. Desde essa perda aconteceram três janelas de transferências, tendo o jovem Luca sido contratado apenas na mais recente. Mais uma vez compreende-se a demora, porque nos últimos dois períodos de transferências não havia eleições para ganhar e, mais importante, o parceiro estratégico ainda não tinha autorizado a transferência, porque ainda tinha mais alguns reforços sonantes para trazer. Peço desculpa, ainda havia esta última ponta de mau feitio para sair. Prometo que não volta a acontecer. A sério que não. Garanto. Promessa de Escoteiro. Se bem que eu nunca fui Escoteiro.
- Gilberto: não sei. E por motivos extra-profissão também não fiquei a saber ontem, porque não consegui ver a segunda-parte. É um jogador diferenciado que, diz quem sabe, ataca como o Grimaldo e defende como o Grimaldo. Perante a perspectiva de terem que marcar 20 adversários por jogo, Rúben Dias, Jan Vertonghen e Julian Weigl disseram, em coro, "epá, não me f"#$m!"
CARREGA BENFICA!
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