Benfica 2 - 0 Vitória SC
- Filipe Pires
- 15 de jul. de 2020
- 4 min de leitura

E de repente, sem ninguém estar à espera, aconteceu um bom jogo de Futebol em Portugal. Talvez eu esteja a ser parcial, porque este jogo envolveu as duas Equipas que mais gosto. Talvez o jogo tenha sido só razoável, eu é que o vi com os olhos orgulhosos de um Pai que vê dois filhos a crescer e a partir alegremente a boca um ao outro. Mas a verdade é que já tinha tantas saudades de ver duas Equipas a jogar para mais do que o pontinho, que este festival de golos falhados encheu-me as medidas. Estou tão habituado à miséria que temos mostrado desde o regresso do Campeonato, que acho justo que as Equipas entrem ao som dos Queen. Afinal de contas, temos apresentado um "Futebol" tão vivo e saudável como o Freddie Mercury.
Mas hoje não. Hoje, contra tudo o que se pensava (e também contra tudo o que o jogo deixou adivinhar logo no início), mostrámos a nossa imagem de marca: jogar bem quando temos a corda na garganta e quase tudo está perdido. E por "jogar bem" entenda-se "olha lá, hoje correram um bocadinho!" Até conseguimos marcar dois golos quando o adversário estava melhor no jogo! Uma tendência que, se tivesse começado (MUITO) mais cedo, iria redundar em goleadas sucessivas desde o interminável mês de Fevereiro até hoje. Enfim, mal-dizer à parte (pfft...), marcar dois golos em momentos de superioridade adversária foi um excelente tónico para os Benfiquistas, que estavam habituados a ver os adversários a marcar dois (ou mais) golos, nos momentos em que os assalariados que o Benfica tem tido em campo achavam que o jogo estava ganho, e por isso resolviam picar o ponto mais cedo.
Uma vez que o Vitória é a minha segunda Equipa em Portugal, parece-me correcto falar também sobre o adversário. E se não acharem isto correcto, azar o vosso. A rubrica é minha e eu faço o que quiser. Manias de besta milionária à parte, há de facto coisas bonitas da parte do Vitória. Por exemplo, o Marcus Edwards resolveu, de certa forma, passar o seu tempo em Portugal a homenagear Dennis Bergkamp. Mas enquanto o Holandês Não Voador ia de carro para todos os jogos fora de Inglaterra, o jovem Marcus faz todos os jogos fora de Inglaterra montado numa Triumph T100 Bonneville. E eu não percebo nada de motas, limitei-me a procurar modelos da Triumph e este foi o nome que me soou melhor. Eu sei que parece exagerado elogiar alguém só porque passou 90 minutos a fazer o que quis da nossa defesa, mas este rapaz parece-me estar pronto para dar o salto e começar a enfrentar defesas a sério. Como a do Rio Ave ou a do Famalicão. Tal como parece exagerado elogiar um Treinador, só porque pôs uma Equipa a jogar bem contra nós. Seguindo este critério, a lista dos Melhores Treinadores da História tinha de incluir nomes como Vítor Pereira, Domingos Paciência, Rui Vitória e sim, Jorge Jesus.
Mas acho que o Ivo Vieira é mesmo bom Treinador, porque as Equipas dele jogam como grandes, mesmo contra adversários que de grande só têm tido o nome. E se duvidam disto, perguntem ao Chiquinho, que marcou um dos golos do Moreirense quando perdemos com eles em casa por 1-3, há dois anos atrás. Consciente de que podia estar na presença do seu novo treinador (se não for pedir muito), Francisco Machado arrancou mais uma exibição esforçada, sendo um dos poucos que não afinou pelo diapasão do "Disparar, Apontar, Preparar". Como se isso não bastasse, marcou depois de um bom cruzamento do Nuno Tavares, um fenómeno que anuncia uma sequência de 999 cruzamentos ao nível do que o Pesaresi de Lisboa já nos habituou. No entanto, a presença (ou ausência de corpo presente, se quiserem um conceito mais filosófico) de Nuno Tavares e André Almeida parece ter tido um efeito motivacional no regressado Florentino, que não tremeu perante as instruções de Nelson Veríssimo:
"Tino, isto é muito simples. Não jogas desde Fevereiro, mas agora vais entrar para substituir um gajo que custou 20 milhões. Vais fechar o meio-campo, iniciar o ataque e recuperar todos os passes que os nossos laterais fizerem e falharem, sendo que a segunda é quase sempre consequência da primeira. Ah, e só temos um Cervi para te ajudar"
Mas estou a ser injusto, porque não foi só o Demónio Argentino a dizer presente nesta tarefa Hercúlea. No meio-campo, ao lado do Tino, esteve esteve um homem cujo nome parece associado a algum tipo de maldição. Ou pelo menos o Hélder Conduto parece achar que, se disser o nome Appelt três vezes, o Gabriel vai fazer mais um passe perfeito de 50 metros, que o receptor vai desperdiçar. Gabriel que, a partir do minuto 75, juntou a sua voz à de quase todos os Benfiquistas, pedindo também ele a entrada do Samaris, porque já não podia com uma gata pelo rabo. Ainda assim ficou em campo até ao fim, e por isso presenciou dois momentos que me fizeram sonhar, porque só alguém inconsciente é que acredita que ainda se pode tirar alguma coisa boa desta época. Primeiro vi o regresso do Seferovic aos golos e à aparente boa forma, com uma tentativa de chapéu que quase entrou como uma luva. E depois vi a entrada do Zivkovic, para jogar atrás do avançado. E não há ninguém que goste de Futebol que não suspire, quando vê a sua Equipa a jogar com um nº10 canhoto. Deixem-me sonhar mais umas horas, em princípio esta noite acabou-se.
CARREGA BENFICA!!
Comentários