Benfica 3 - 1 Boavista
- Filipe Pires
- 5 de jul. de 2020
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O regresso às vitórias, e ao mais parecido que temos com uma boa exibição. Até começámos o jogo no nosso registo habitual quando estamos a ganhar, deixando o adversário trocar a bola à vontade e chegar à área de todas as formas que quis. Se os nossos jogadores corressem nos treinos como correram atrás da bola nos primeiros 15 minutos, se calhar estavam em melhor forma do que estão. José Mário Branco dizia que Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades. No Benfica mudou-se o treinador, mas no início do jogo manteve-se a falta de vontade. Mas se a Equipa em campo acertou depois do primeiro golo, a equipa da instalação sonora fez questão de manter a consistência azeiteira que a caracteriza, escolhendo faixas com assobios sempre que o adversário tinha a bola ou construía um lance de perigo. Se é mesmo para fazer soar assobios, podiam fazê-lo quando os jogadores do Benfica recuperam a bola. Eles já estão habituados.
E já agora, em vez de "Ninguém Pára o Benfica" devia ouvir-se "Ninguém Mexe O Benfica". Sinceramente, este ambiente sonoro com cânticos dos adeptos lembra-me a altura em que o Reggaeton dominava o Mundo. Porque ambos são barulhos apenas brevemente compreensíveis, que só dão alegria a bêbados. Todo este contexto sonoro, deu-me uma ideia para uma edição do Amador de Bancada ligeiramente diferente, baseada nas canções que os nossos jogadores me lembraram durante o jogo. E a expressão "edição ligeiramente diferente" costuma ser interpretada como "não tinha nenhuma ideia melhor para isto", o que é absolutamente verdade.
Vlachodimos: Miss You, Blink 182 - tenho saudades tuas Odysseas. Tenho saudades daquele guarda-redes que limpava tudo o que mexia na grande-área e arredores, e que não tinha como melhor recurso no seu arsenal o nem sempre fiável golpe de vista. Talvez esteja a ser injusto porque hoje quase não tiveste trabalho, mas ultimamente quando tocas na bola, o erro parece apenas uma questão de tempo, em vez de ser uma coisa em que nem sequer pensamos.
André Almeida: Mrs. Robinson, Simon And Garfunkel - uma canção sobre uma senhora que precisa de ajuda e de um ombro amigo para ultrapassar os seus problemas. E é exactamente isso que os adeptos precisam, quando olhamos para o passado e percebemos que, desde o Abel Xavier, melhor que o Mestre André só o Nelson Semedo. Almeida foi ainda assim protagonista involuntário num dos momentos mais bonitos da noite, quando os comentadores da Benfica TV disseram que ele tinha mais golos no Campeonato que o Seferovic, mas arrependeram-se a meio da frase.
Rúben Dias: The Blower's Daughter, Damien Rice - no refrão desta balada, Damien Rice diz que não consegue tirar os olhos de alguém. Nos últimos jogos, o Tipo Com Demasiadas Preocupações Capilares Para Ser O Senhor Capitão Rúben Dias também não consegue tirar os olhos dos avançados, marcando-os apenas dessa forma sempre que há um cruzamento para a área.
Jardel: E Depois Do Adeus, Paulo de Carvalho - queremos saber quem tu és Jardel, e suspeito que tu também. Serás tu o Capitão de que precisamos, para haver uma voz de comando em campo, e que conjuga isso com a confiança que o faz sair a jogar com malabarismos e passes curtos ou longos sempre certeiros? Ou serás tu o pré-reformado a quem o andarilho dá alguma firmeza, ao mesmo tempo que tira a agilidade necessária para parar quem der mais do que dois passos num segundo? Tens até dia 9 ou até à próxima pontada das artroses para descobrir.
Nuno Tavares: Tubthumping, Chumbawamba - o que este jovem faz em campo é a definição de one-hit wonder. Quando arranca pelo corredor esquerdo, parece que vai engolir o Mundo e que nada o pode parar. Quando chega a hora de decidir o que fazer, pára o seu próprio ímpeto porque a faixa seguinte é demasiado experimental. Os comentadores da Benfica TV dizem que ele tem um bom cruzamento, e têm toda a razão. O Nuno Tavares tem um bom cruzamento. Por jogo.
Julien Weigl: 99 Luftballons - noventa e nove é o número aproximado de lances que este rapaz tinha de criar a cada jogo - sempre dando golo, obviamente - para muita gente dizer que valeu o dinheiro da transferência. Mesmo não criando noventa e nove oportunidades de golo por jogo, resolve 99% dos buracos que a defesa abre. Sempre sem se dar por ele, como se exige naquela posição.
Pizzi: Satellite Blues, AC/DC - em campo, Luís Miguel parece um engenheiro de uma agência espacial de vão de escada. Todos os projécteis que dispara saem com um percurso mal calculado, podendo os seus cruzamentos, cantos ou livres resultar em passes para o defesa que tapa o primeiro poste, ou com a bola a terminar em órbita geo-estacionária.
Gabriel: Dei-te Quase Tudo, Paulo Gonzo - tirando as duas assistências, o golo e alguns passes largos bem medidos, este rapaz com apelido de craque entregou aos adversários tudo o que foi lance que parecia fácil de resolver. Para os médios do Boavista, Natal é quando o Gabriel não consegue fazer um passe de 5 metros.
Cervi e Samaris: I Would Do Anything For Love, Meat Loaf - nesta declaração assolapada de amor - que cheira tanto a anos 90 que não se pode chegar perto dela com um isqueiro, por causa da laca - Michael Lee Aday diz que fará tudo por amor. Tal como Franco e Andreas, que fazem tudo o que lhes for pedido pelo Manto Sagrado, incluindo saltar tanto e tão injustificadamente entre a titularidade e a bancada, que podiam perfeitamente considerar uma carreira alternativa no triplo salto.
Chiquinho: Firestarter, The Prodigy - eléctrico e enérgico, um instigador. Já gostámos dele e já o odiámos. Já foi tudo o que precisávamos para resolver todos os nossos problemas de construção, para depois ser mais um que foi contratado sem ter categoria para o Benfica. Enquanto andamos nesta esquizofrenia emocional, Francisco Leonel Machado vai resolvendo tudo o que lhe atiram para os pés, seja com rotações sobre adversários, passes de primeira, aberturas que rasgam defesas ou simplesmente deixando a bola seguir.
Seferovic: Sound Of Silence, Simon And Garfunkel - o primeiro e mais conhecido verso desta canção é aquilo que a bola diz quando chega aos pés do Haris. Felizmente não chega lá muitas vezes, nem está lá muito tempo. Defenderei sempre o avançado que "só" sabe marcar golos, mas tem que os marcar mesmo.
Rafa: Misirlou, Dick Dale - de um lado temos dois minutos de velocidade estonteante, técnica quase irrepreensível e movimentos frenéticos que no fim resultam em fogo de vista e tempo perdido. Do outro, uma grande malha do Dick Dale.
Vinícius: In The End, Linkin Park - O Carlos tentou tanto e chegou tão longe, no seu esforço de nos dar nem que seja só o troféu de melhor marcador da Liga. Mas no fim de tudo, uma rara boa arbitragem de Fábio Veríssimo Y Sus Muchacho fizeram com que nada disso importasse.
Jota: The Passenger, Iggy Pop - o João Filipe parece um miúdo que passou de um colégio privado para uma escola pública, e ainda vai conseguindo enganar os novos colegas. Ainda ninguém reparou que ele não tem o mesmo andamento dos outros, e que derrama as minis por baixo da mesa e deixa os cigarros queimarem-se sozinhos. Só por isso é que ainda não foi corrido da parte de trás do autocarro e só por isso é que ainda ninguém lhe disse que o melhor era mudar de turma por uns tempos.
CARREGA BENFICA!!
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