Vit. Setúbal 1 - 1 Benfica
- Filipe Pires
- 7 de mar. de 2020
- 3 min de leitura

Imaginem que a Primeira Liga representa Portugal. Eu sei que muita gente pensa que já é assim, mas por enquanto isto é apenas um exercício de imaginação. Se a Liga representasse Portugal, também havia gente com mais dinheiro que todos os outros juntos, e havia gente que diz que tem mais dinheiro que todos os outros juntos, mas que na verdade não tem nem para mandar cantar um cego. Depois havia aqueles que estão a trabalhar para ter estabilidade e para chegar ao nível dos maiores, seguidos de quem vai conseguindo apenas sobreviver. E finalmente há o Vitória de Setúbal. Que só come no equivalente do "Futebol" Português às reportagens de Natal - as visitas do Benfica - e que não só cospe no prato em que come como ainda insulta o cozinheiro. Seja através de um jogador a admitir que prefere descer de divisão a perder com o Benfica, ou através da direcção que proíbe adereços do adversário fora das zonas reservadas aos adeptos visitantes. A veracidade desta decisão vai ser difícil de avaliar, porque a única ocasião em que o Estádio do Bonfim tem adeptos visitantes (ou adeptos de todo) é quando o Benfica lá vai jogar.
A cereja no topo deste bolo de ironia, que os adeptos do Vitória cozinharam enquanto gritavam alegremente "Benfica é merda" é, logicamente, a fotografia do fair-play que Pedro "Balizas" Proença manda tirar no início dos jogos, para mostrar que está tudo bem e que somos todos muito amigos. E talvez seja por haver tantos abraços e tantos cumprimentos antes dos jogos que, em Portugal, não há um único jogo que comece a horas. Ou então é uma medida a pensar nos adeptos, porque com o nosso hábito de chegar elegantemente atrasados a tudo, se os jogos começassem a horas havia gente que só via a segunda parte.
O que talvez não fosse necessariamente mau, porque o pouco jogo que conseguimos produzir aparece apenas nessa altura. Ou quando algum jogador percebe que vai ser substituído, como foi o caso do Chiquinho, que conseguiu uma excelente exibição nos 30 segundos antes da entrada do Rafa para o seu lugar. Se calhar é por isso que só jogamos bem na pré-época, é a única altura em que podemos ter 11 jogadores a aquecer. Mas eu percebo esta postura dos nossos jogadores. Estamos em Março, o tempo está a começar a aquecer e toda a gente se sente afectada pelo flagelo dos incêndios no nosso País. Por isso, os jogadores do Benfica começaram já a operação de protecção florestal de 2020, jogando com a mais completa e absoluta falta de chama. O próprio Sílvio - que eu não me importava de insultar, dizendo que está velho e que está a tirar o lugar a uma pérola da formação, enquanto os seus 32 anos de experiência iam cumprindo tudo o que se pede a um lateral-direito - deve ter ficado surpreso quando saiu uma das únicas fontes de ignição que tivemos esta noite - o inevitável e incansável Cervi - para entrar um fogo-fátuo que incomodou apenas a espaços e que depois se esgotou - o também ele inevitável Dyego Sousa.
Mas para isto não ser um festival de críticas vazias, tenho uma sugestão para melhorarmos e para atacarmos o que resta da época: passar a jogar com três defesas. À primeira vista parece uma ideia suicida, mas essa perspectiva muda se pensarem que, de há dois meses para cá, jogamos com o Rúben Dias e três tipos recolhidos à entrada do estádio e que passam o jogo à espera de que nada corra mal. Pior do que quem fica à espera de milagres na defesa, só mesmo os colegas que ficam à espera da bola e que depois se admiram por não acertarmos um passe. Ou os colegas que não esperam o suficiente pelo passe e que arrancam antes do tempo, deixando no campo uma cratera que vai ser ocupada por um adversário, e deixando nas paredes dos Benfiquistas uma cratera que vai ser ocupada com mais uma cabeçada. No topo desta hierarquia da depressão, estão os jogadores que chegam a tempo à bola, mas que a dominam com algo que varia entre uma folha verde a abanar ao vento e um tijolo de 7, sem nunca passar pelo meio termo entre os dois: um pé.
CARREGA BENFICA!!
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