Sporting 0 - 2 Benfica
- Filipe Pires
- 18 de jan. de 2020
- 5 min de leitura

Vou começar isto deixando uma mensagem aos meus Amigos Sportinguistas. E aos meus Amigos lagartos também, porque eles gostam de se ofender com estas coisas. Tenham calma pessoal, nem tudo está perdido. Porque o tempo dos Cinco Violinos já passou e não volta, mas agora o Sporting tem os Cinco Cavaquinhos. Começando pelo Maximiano, um guarda-redes de 21 anos com nome de idoso, e continuando, já que se fala de idosos, com o reumatismo do Mathieu, que tentou marcar de bicicleta só para ter uma desculpa para se deitar um bocadinho. Mais à frente está a bigodaça do Wendel, o cabelo-galão do Doumbia e a incontornável cremalheira do Bruno Fernandes. E já que Alvalade parece não querer nada com o Futebol, estes rapazes podiam aproveitar esta ideia musical (juntamente com o bailinho que levaram) e começavam a digressão Mundial de Bruno Y Sus Muchachos. Um projecto semelhante aos AC/DC, em que há um artista que vale o dinheiro que se paga, mas os outros quatro também não são fracos. E até podiam começar a digressão por Manchester, aproveitando para ajudar o Bruno a mudar de casa e para recuperar todas as bolas que o Acuña mandou para lá neste jogo.
Como estamos em Portugal, não há derby sem reclamar com a arbitragem. Mas como esta é uma publicação de bom gosto, não vou chamar nomes ao senhor Hugo Miguel. Não é que ele não os mereça, eu é que não lhos quero chamar. Mesmo que o apito tenha acabado o jogo com mais saliva acumulada do que um par de óculos, depois de uma conversa entre sopinhas-de-massa. A nossa redacção teve acesso ao relatório do árbitro e podemos por isso revelar algumas anotações:
- "Bruno Fernandes e André Almeida apertaram as mãos com muita força durante a escolha de campo e bola. Paragem para assistência médica"
- "Stefan Ristovski caiu com um ataque de cócegas causado por Alejandro Grimaldo. Apito a falta, porque as cócegas são um antigo método de tortura"
- "Gabriel reclama por ter sido agredido por Luiz Phellype. Aconselho o jogador a perder peso para eu não o confundir com a bola e mando jogar, por não saber escrever o nome do avançado do Sporting sem ir ao Google"
Entre as paragens do jogo e a paragem de cérebro das claques do início da segunda parte, na placa do quarto árbitro podia estar escrito, em vez de um número, algo como "até à semana que vem". Mas nem tudo foi estúpido na intervenção das claques do Sporting, porque eles inteligentemente pararam um lance perigoso a nosso favor, já que a bola estava nos pés do Ilori. Mais do que isso, desta vez puxaram fogo ao estádio certo. Já agora, se virem o Senhor Vítor Espadinha junto ao Estádio de Alvalade, digam-lhe para onde é que as claques do Sporting foram. Ele quer ter uma reunião com os responsáveis:
Mas chega de falar no Sporting, porque não me pagam para isso. E porque também há coisas para dizer do nosso lado. A começar pela baliza, onde o Vlachodimos me fez pensar nos tempos em que disse que nunca mais íamos ter um guarda-redes que fizesse passes longos como o Ederson. Ou que tirasse golos feitos em cima da linha como o Ederson. Ou que anulasse a profundidade dos adversários como o Ederson. Ou que funcionasse como primeiro elemento de construção como o... enfim, vocês percebem a ideia. Depois de pensar nisto, pensei ao intervalo na primeira volta que o Grego fez e ri. Ri muito e sentei-me confortavelmente para ver a segunda parte. E ria-me ainda mais se este jogo pudesse ser resumido com a frase "André Almeida apareceu duas vezes a finalizar ao segundo poste e fez dois golos, um dos quais de pé esquerdo". Mas tive de conter essas gargalhadas, porque o jogo pode ser resumido com a frase "André Almeida começou a primeira parte quando os colegas já estavam a meio da segunda". Mas calma, porque não foi só o Senhor Capitão que entrou em campo no fuso horário de Rarotonga. O Ferro também tem entrado em campo com o ar de quem fez uma viagem de 40 horas para chegar ao jogo, misturado com aquela enervante calma de quem pensa "olha, uma bola!", "olha, um estádio!", "olha, um avançado a ganhar um espaço nas minhas costas que ninguém sabia que existia!"
Quem tem aproveitado isto para somar experiência e cabelos brancos é o Jaap Stam da Amadora, o Artista-Marcial-Hoje-Em-Dia-Conhecido-Como-Senhor-Capitão Rúben Dias. E que hoje demonstrou o quanto isto é verdade, ao ganhar um lançamento (lance inconsequente, mas que mostra bem o Monstro que estamos a criar) tocando uma bola a meia altura contra as costas do Mathieu, um central que tem metade da sua experiência apesar de ter o dobro da sua idade. Foi ainda notória a influência do jovem Rúben nos seus colegas, principalmente junto do Grimaldo, que viu o Rafael Camacho a passar pelo nosso flanco esquerdo como se todos os jogadores fossem primos do Bolasie e que fez um desarme tão simples, mas com tanta classe, que colegas e adeptos celebraram em uníssono com uma exclamação de "que excelente colocação e abordagem ao lance Alex! É assim mesmo que se faz, caramba!" Se estas piadas são decorrentes de dormir pouco? Talvez. Mas a julgar pelas olheiras, o Cervi ainda dorme menos do que eu. Deve ser da má digestão que dá comer um relvado inteiro em todos os jogos.
Podemos começar a falar do nosso meio-campo como uma entidade única? Porque é exactamente isso que vejo quando estes rapazes entram em campo, uma espécie de Hidra com sete cabeças (Samaris, Weigl, Gabriel, Taarabt, Pizzi, Chiquinho e Rafa) capaz de aterrorizar todos os Hércules deste Mundo e de devorar inteiros todos os adversários desprevenidos que apanha pela frente. E também um outro que esteja prevenido. Ainda assim, e se tiver mesmo de individualizar, tenho de pegar primeiro no caso de Julian Weigl, que ontem passou a respeitar verdadeiramente o novo treinador, quando o Cruijff de Setúbal chamou o jovem Alemão durante a festa do primeiro golo para lhe dar indicações e para lhe explicar o trabalho que era preciso fazer até ao fim do jogo. Julian pediu então desculpa por aquele minuto de devaneio e voltou à tarefa de encher os próprios bolsos com os médios do Sporting. O outro destaque individual é para alguém que só jogou os últimos cinco minutos, mas que merece destaque pela improbabilidade que era, até há relativamente pouco tempo, alguém pensar o que os Benfiquistas pensaram na segunda parte: "para ganharmos isto, tem que entrar o Taarabt". O Marroquino ouviu todas as indicações do treinador, olhou para ele e resumiu todos os esquemas tácticos com uma pergunta que teve a simplicidade do génio que ele é: "vou lá para dentro meter ratadas, não é mister?"
Então e tu, Haris? Então e tu, que nesse jeito desajeitado ontem fizeste a assistência para o golo que nos calou e nos descansou? Então e tu, que tens a cada golo que marcamos com a tua contribuição a expressão de quem nos mandar todos à merda, com toda a razão? Então e tu, que tens colegas que nunca te abandonam e que, no segundo golo, foste mais abraçado e felicitado do que quem o marcou? Então e tu, que foste insultado por idiotas que dizem ser Benfiquistas no dia mais feliz da tua Vida e mesmo assim continuaste a trabalhar? Então e tu, que respondes a quem faz piadas à custa desse mesmo jeito desajeitado com esforço e com trabalho? Só posso responder por este último ponto, e garanto-te uma coisa: vou continuar a fazer as piadas, porque tu com certeza vais continuar a responder assim dentro de campo.
CARREGA BENFICA!!
Comentarios