SC Covilhã 1 - 1 Benfica
- Filipe Pires
- 4 de dez. de 2019
- 3 min de leitura

Pensei sinceramente em não escrever isto. Por motivos profissionais e técnicos (na medida em que este técnico teve que trabalhar para sustentar este vício) não consegui ver a nossa deslocação à Bolívia de Portugal e acompanhei o jogo apenas pelas palavras dessa equipa de magos que faz o desporto da Antena 1. Assim sendo, não ia escrever porque ia estar a falar daquilo que não vi e que só conheço pelo que me contaram e isso, sendo esta uma rubrica da qual se espera seriedade, podia comprometer o produto final. Mas depois alguém - uma das vozes na minha cabeça - apontou o facto de isto ser a internet, um sítio onde escrever sem saber o que se diz é não só recomendado como chega até a ser obrigatório. Embarquemos então numa viagem movida pela única coisa que se salvou no Benfica neste jogo: o amor à Camisola.
E quem diz à camisola diz a outras coisas. Por exemplo, com tantos passes curtos falhados e tantas bolas batidas para fora, o Zlobin parece que entrou em campo com duas garrafas de vodka nos pés e outra no bucho. Na famosa escala de qualidade de guarda-redes Ovchinnikov-Yashin, o nosso jovem Russo afasta-se a cada jogo e a cada aperto que nos dá no coração da sua classificação inicial como novo Igor Akinfeev - que foi dono incontestado das redes do seu clube e selecção durante muitos anos - e avança a passos largos em direcção ao nível dos irmãos Berezutskiy - dois gémeos que a única coisa que têm em comum com a posição de guarda-redes é taparem a baliza quando estão lado a lado. Mas se alguém pago para jogar com as mãos não souber jogar com os pés, isso não me tira o sono. Os meus problemas começam sim quando alguém pago para jogar com os pés os mete pelas mãos e não acerta um cruzamento digno do nome. Como por exemplo os nossos laterais, que têm em comum o apelido, o volume capilar e a capacidade para fazer uma quantidade absurda de cruzamentos inúteis durante 90 minutos.
É claro que também não ajuda se tivermos um trio ofensivo como o deste jogo, composto por mágicos com o talento para sair de sítios apertados de um Harry Houdini no seu estado actual, a capacidade de atravessar paredes defensivas de um David Copperfield sem luzes e câmaras e a capacidade de comunicação entre si de um Raymond Teller. Mas como é óbvio, a ilusão de que temos profundidade e qualidade em todas as posições só acontecia quando a bola era jogada em condições. E contam-se pelos dedos de um maneta as vezes que isso aconteceu, entre muitos passes para trás e para o lado (não confundir com circulação de bola), amontoar jogadores junto à área adversária (não confundir com ataque organizado) e muitas situações de ter a bola sem saber o que lhe fazer, perdendo-a muitas vezes com tentativas de fintas que acabavam ou em desarmes ou com lançamentos para o Sporting da Covilhã (não confundir com capacidade técnica). Até à entrada do Pizzi e do Taarabt, o nosso meio-campo teve tanto critério e clareza de ideias como quem faz o calendário do "Futebol" em Portugal.
E por fim uma palavra para o nosso treinador, que se esqueceu por momentos que trabalha no Benfica e que todos os jogos são para ganhar, mas com respeito pelos nossos jogadores e pelos do adversário. Esqueceu-se que nenhum jogo serve para mostrar maus momentos de forma, todos servem para dar tudo por tudo. Se há jogadores que jogam menos minutos por não estarem tão bem como os outros, eles vão entrando até recuperarem a forma e a confiança, não são lançados ao fogo e apontados como culpados de más exibições. Qualquer outro clube do Mundo pode fazer isso, nós não. Por isso é que a última palavra deste texto é para o Cruijff de Setúbal (porque toda a gente erra e eu ainda acredito no homem) e é a última palavra que eu pensei em dirigir-te Bruno: foda-se!
CARREGA BENFICA!!
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