RB Leipzig 2 - 2 Benfica
- Filipe Pires
- 28 de nov. de 2019
- 4 min de leitura

Porque é que não gosto de RedBull? Dá-me um bocadinho de azia. Mas não é sobre isso que se fala hoje e também não é sobre futebol. Hoje fala-se de cinema e da ideia vencedora que eu tive para rentabilizar as campanhas Europeias do Benfica, com mais do que consultas de psiquiatria e vendas de antidepressivos. Uma obra-prima chamada Apocalypse Now Before And After, uma tortuosa película de acção, supense e terror puro e duro, que muitas vezes parece não ter fim. Conta a história de um pelotão de jovens soldados e do seu inexperiente Capitão, forçados a ir para uma guerra que estão habituados a acompanhar apenas pela televisão e que lhes vai deixar marcas psicológicas para a vida.
Imaginem então que o hino da Liga dos Campeões é a Fortunate Son e que qualquer estádio onde ele se ouça é o nosso Vietname. Vamos a isto.
Na retaguarda do pelotão, dando fogo de cobertura e segurando a artilharia pesada do inimigo, está um jovem Grego chamado Odysseas, trazido para esta selva de fogo cruzado e ataques à traição (seja por agressões do inimigo ou por erros dos colegas) com a pesada missão de fazer esquecer o talentoso desertor Brasileiro que ocupava esse posto antes dele. Não são culpa dele a queda a pique e os sucessivos massacres do seu pelotão nesta guerra, sendo ele na verdade um dos principais responsáveis por não existirem mais vítimas a cada batalha, apanhando granadas com as próprias mãos e devolvendo-as à trincheira inimiga. Poucos metros mais à frente no teatro de guerra, dois jovens amigos chamados a servir a sua nação por força da ausência dos dois Tenentes que desempenhavam estas funções no passado. Um dos Tenentes retirou-se para uma posição de gabinete e o outro tem neste momento pouco mais do que vontade de ajudar, e por isso foram recrutados à pressa os jovens Rúben e Francisco. Mas enquanto Rúben já tinha servido antes nesta guerra perdida e já sabe lidar com os pesadelos que o acordam à noite, Francisco está na sua primeira campanha e precisa ainda de acompanhamento psicológico e de alguém que o abrace, enquanto fica em posição fetal repetindo em pânico "eles estão em todo o lado, eles estão em todo o lado".
Também por ausência dos Tenentes foi promovido André, o anti-herói desta fita que faz lembrar um personagem entretanto desaparecido da saga, o Soldado Eliseu. André tão depressa nos faz adorá-lo pela sua abnegação, experiência e amor à bandeira como nos faz pensar que os generais deste exército deviam subornar uma força inimiga para obterem alguém capaz de o substituir. Qualquer enfermaria ou hospital de campanha seriam bons sítios para começar a pesquisa. No lado oposto do campo de batalha estão os dois pequenos especialistas em explosões, Alex e Franco, que correm incansavelmente para dinamitar as pontes e estradas Vietnamitas e para distribuir munições pelos camaradas de armas. Os dois são o complemento perfeito um do outro, já que Alex funciona muitas vezes como franco-atirador, vendo ao longe o melhor caminho para invadir as fileiras inimigas e Franco funciona como Alex-atirador (esta era demasiado parva para não fazer, deixem-se de coisas) que usa o combate corpo a corpo para o mesmo fim, mesmo que se defronte quase sempre adversários maiores do que ele. Os dois costumavam ser acompanhados nas suas incursões primeiro por um jovem Croata e depois por um jovem Sérvio, mas ambos foram afastados das filmagens por motivos desconhecidos. Quem vê o filme fica sempre com a sensação de que os seus devaneios seriam atenuados pelo seu talento em cena, mas os argumentistas fazem ouvidos moucos a esta ideia.
Estes dois pequenos poços de trabalho são muitas vezes os únicos elementos que parecem ser capazes de conduzir os colegas a uma vitória mais do que moral. Juntamente com o Tenente Pizzi, que se revela batalha após batalha como a voz de comando que os seus colegas precisam para não sentirem que foram abandonados à sua sorte. É ele que dá aos colegas a clareza de ideias necessária para enfrentar uma chuva de napalm e os ataques incessantes de adversários mais fortes não só em termos financeiros e físicos, mas também muito melhor organizados. Pizzi lidera um pelotão que vai à guerra com nada mais do que a Mística do seu lado, mas por breves momentos ele consegue galvanizar os colegas e o próprio público, fazendo todos acreditar que isso é suficiente. A acompanhá-lo na titânica missão de levar este inapto pelotão à vitória estão dois ex-renegados que encontraram a redenção. Primeiro o Marroquino Adel, que depois de ser acusado de traição e de ser condenado ao afastamento do serviço ajuda agora a trazer alguma clarividência às operações. Depois o Brasileiro Gabriel, que depois de trazer alguma clarividência às operações é agora acusado de traição e para quem se pede o afastamento do serviço. Nem que seja por um jogo ou dois.
Na frente de batalha e sempre prontos para lutar até cair para o lado, independentemente do número ou da força dos adversários, Vinícius e Chiquinho assumem-se como as melhores (únicas?) opções para fazer com que uma série de ataques desorganizados cheguem a bom porto e ajudam a transformar em bom cinema aquilo que sem eles seria apenas um desperdício de muitos metros de fita. Mostrando verdadeira crença na Mística apregoada pelo Tenente Pizzi, estes dois artilheiros avançam sem medo contra uma floresta de adversários e entre eles conseguem ser a primeira linha de defesa e os orientadores do ataque, numa enorme demonstração da sua versatilidade enquanto artistas. Nem sempre se nota a sua presença, mas a sua capacidade de trabalho e improviso ajudam inegavelmente a disfarçar algumas lacunas ao nível do argumento. A última cena do filme passa-se numa sala escura, onde os generais Vieira e Mendes planeiam a melhor forma de ninguém perceber quem são os principais culpados de todo o derramamento de sangue: eles próprios. Fica no ar a promessa de uma sequela cinematográfica e de sequelas psicológicas para quem acompanhar esta traumatizante trama.
CARREGA BENFICA!!
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