O Prazer Solitário
- portaldoalgarve
- 20 de nov. de 2019
- 3 min de leitura

Há ironias na Vida que são boas demais para não serem esmiuçadas e esmifradas até que delas não sobre mais nada. Existe a ironia de ser insultado por erros de Portugês, a ironia de ser atropelado pelo INEM (exemplo aplicável também a atropelamentos por mata-velhos, independentemente da idade) e a ironia de ser insultado por pessoas que começam frases com "eu tenho sentido de Humor", mas que depois defendem ponto por ponto os limites da comédia. Existe também a ironia de vivermos num Mundo ainda tão religioso, mas no qual tanta mas tanta gente leva a cabo o prazer solitário com outras pessoas. E é nesta ironia que vamos pegar hoje, à falta de melhor termo. E eu sei que termos como "debruçar" ou "analisar" também podiam ser utilizados aqui, mas se usasse um deles perdia-se uma piada francamente parva. E não nos podemos esquecer que é a parvoíce da boa que dá força a este projecto.
Mas sim, ainda que à partida pareça confuso, há muita gente que pratica o prazer solitário com outras pessoas. E muitas vezes (quase todas) em lugares tão públicos e tão repetidamente que tocar marotamente alguém chega a ser confundido com educação, incluindo pelas pessoas que recebem esse tratamento. E aqui eu tenho que dar a mão à palmatória, porque se eu chegasse a um sítio e fosse recebido desta forma, no dia a seguir voltava lá. E dois dias depois também, para as pessoas não ficarem a pensar que tinha lá ido só pelo serviço. É claro que nem toda a gente gosta deste tipo de convívio, há pessoas mais reservadas que não põem o ego em mãos alheias e preferem ser elas a agarrar a tarefa do afago da auto-estima. Mas também é verdade que muita gente não só gosta deste tipo de festividades como se ofende se não houver um par de mãos para o receber onde quer que chegue. Os motivos para este entumescimento do orgulho afagado são os mais diversos, mas prendem-se geralmente com contas bancárias, posses materiais e títulos ou empregos.
Há no entanto regras a respeitar, nem que sejam as do civismo. Porque receber uma blandícia (sim, fui à procura) voluntária é uma coisa, mas pedir maviosidades (agora a sério, uma pesquisa de sinónimos no Google ajuda imenso nestas coisas) da parte de toda a gente ao mesmo tempo chega a ser inconveniente, porque uma pessoa não sabe onde é que os outros andaram com as mãos. Talvez Paula Bobone devesse escrever um novo manual (pfft...) sobre esta temática, onde voltava a ensinar ao Mundo em particular e a Portugal em geral as regras de boa educação e etiqueta. É verdade, já repararam que o nome "Paula Bobone" encaixa perfeitamente na música da Família Addams? Talvez o facto de a senhora ser parecida com o Uncle Fester não seja tão coincidente com isso. Mas adiante. Neste novo volume de acendalhas poderiam estar incluídas estas e outras instruções para o bom comportamento:
1 - O cumprimento deve passar a ser feito com três beijinhos em vez de dois, sendo os dois primeiros dados na face como tradicionalmente e o terceiro dado na Pontinha, essa bonita freguesia do concelho de Odivelas;
2 - Se as pessoas não estiverem na Pontinha e/ou não tiverem possibilidade de se deslocar até lá, o cumprimento deve ser concluído tomando o Peso da Régua;
3 - Sempre que for necessário marcar um encontro, todas as partes deverão decidir o destino - por unanimidade ou por força de maioria - entre as vilas de Colo do Pito, Coina e Anais, esta última apenas após profunda deliberação entre todas as partes;
4 - Se nenhuma das partes tiver interesse em visitar estes três locais, poderão alternativamente encontrar-se no pico da vila de Picha. Neste último caso, as deslocações dentro da vila deverão ser feitas de bicicleta.
E depois de todo este bom gosto, vem a maior ironia de todas: a maioria das pessoas que tratamos assim não vale um prazer solitário mal praticado.
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