Braga 0 - 4 Benfica

Um jogo em que o adversário tinha dois irmãos conhecidamente Benfiquistas, mais um jogador que já passou pelo Maior do Mundo. A juntar a isso, ganhámos com dois auto-golos e um penalty que vai ser analisado frame a frame durante toda a semana, até que todos os painéis de entendidos da bola descubram nas imagens a cura para o cancro, para a SIDA e até a própria pólvora. Marquem este jogo e lembrem-se: a lista de críticas quando ganharmos o 38 vai começar aqui. Mas como nem tudo são críticas, não posso deixar de saudar a bonita postura dos adeptos do Braga: a perder por 4, passaram os últimos minutos a insultar efusivamente e em coro os adeptos e jogadores do Benfica. É oficial, estão prontos para serem um dos grandes de Portugal. Podem ficar com a nossa vaga, porque ser grande não nos chega.

E não só não nos chega como é manifestamente pouco. Mais do que ser grandes, queremos ser incontestavelmente Os Maiores e provocar em todos os adversários o mesmo pânico que provocámos ao Nuno Sequeira, defesa esquerdo do Braga que estava à espera de ter pela frente um miúdo cheio de talento e boa vontade, mas com muito para aprender, e afinal teve pela frente o Melhor Lateral Direito do Mundo. Seja muito bem-vindo Senhor Capitão André Almeida! Venham de lá esses atrasos para o guarda-redes que nos fazem pensar que precisamos mesmo de mais um lateral, seguidos dessas arrancadas pelo corredor, essas assistências e essas fintas estranhas para toda a gente, mas que nos fazem pensar que não há melhor que o nosso Cafú de Loures. Falando em responder e calar as críticas, neste jogo calámos quem dizia que não temos um bom médio centro sem ser o Gabriel. E à falta de um temos dois! O problema é que o André Horta joga na Equipa errada e o Taarabt resolveu gozar três épocas e meia de férias antes de pegar ao serviço. O que teve os seus inconvenientes, mas também significa que agora vai ser sempre a trabalhar a este nível até ao fim da carreira. E se o fim da carreira fosse no Benfica, acho que ninguém se queixava.

Mesmo que aconteçam mais primeiras partes como esta, em que o próprio Adel deve ter achado estranho ouvir tantas vezes as palavras "pára" e "respira fundo" ditas por alguém que não estava a fazer uma operação STOP. Ou mesmo que apareçam mais árbitros como o senhor Nuno Almeida, que mais parecia um fundamentalista Islâmico a querer castigar o Marroquino pela sua vida boémia e que até se deu ao trabalho de contar as formas como o fazia: "inventei uma, duas, três, quatro faltas. Agora vou inventar um cartão para desenjoar". Mas mesmo com coisas menos boas, este jogo do Adel foi a prova definitiva de que com o Cruijff de Setúbal não cai ninguém. Não cai o Adel e não Caio Lucas...

Sim, isto aconteceu. Adiante.

Voltemos então a dar alguma classe a isto e vamos falar do Ferro. Um central de raiz que começou o jogo na posição de tio de toda a gente, porque sempre que o Braga apertava, todos os seus colegas andavam "oh tio, oh tio!", para ele pegar na bola. Um central com tanta elegância e aprumo que provavelmente faria uma matança do porco sem deixar cair uma única gota de sangue no chão, recolhendo antes o consentimento assinado do animal. E é tão inteligente que provavelmente seria ele a ensinar o porco a escrever. Ou então vai ser ele a ensinar o Grimaldo a acertar um passe, explicando-lhe pacientemente que ele não tem de dar sempre a bola a quem veste de vermelho, enquanto passa um PowerPoint com as caras dos colegas de Equipa, para o Espanhol se habituar a reconhecer mais do que a cor das camisolas em campo. Terá sido também ele a ensinar o Seferovic a lidar com bolas dentro da área, a avaliar pela forma como o Suíço conseguiu anular todos os lances de perigo em esteve envolvido, incluindo dois em que estava isolado. Sem querer exagerar, acho que o Haris, mais do que conseguir falhar um elefante num corredor a três metros de distância, conseguia falhar um elefante sentado nas suas costas.

Eu sei que posso estar a ser demasiado cruel com o rapaz, mas tenho saudades de ter avançados conhecidos pela capacidade de trabalho e que marcavam golos, em vez de ter avançados que aproveitaram a época baixa para dar férias às defesas adversárias. E é estranho ver um tipo com fama de homem-golo na linha lateral a ganhar bolas em vez de estar dentro da área, enquanto o Seferovic está dentro da área em vez de estar fora das linhas a encher bolas. E sim, nós sabemos que quando o primeiro entrar os golos nunca mais param, mas tem calma Raúl. O teu primeiro golo oficial pelo Benfica não tem de ser uma obra-prima, nós ficamos contentes desde que a bola entre. Somos pessoas simples. E tu com certeza vais conseguir o teu primeiro golo. Mesmo que ele só aconteça depois de um central ter feito auto-golo com uma assistência do Seferovic, tu vais conseguir o teu primeiro golo.

CARREGA BENFICA!!