Não há Kiss Kiss, só há Bang Bang
- Filipe Pires
- 22 de ago. de 2019
- 4 min de leitura

Estamos a assistir a uma escalada de violência pelo Mundo fora. É um acontecimento recente, que começou há cerca de 10.000 anos, quando o primeiro Homem olhou para o segundo Homem e disse "mim não gosta ti" e lhe acertou na testa com a primeira arma alguma vez registada: um calhau. Depois do acontecimento, o segundo Homem afirmou aos microfones do Portal do Algarve: "mim não pensar ele capaz de bater mim. Mim pensar ele jóia de moço". Depois do primeiro derramamento de sangue por força bélica, inúmeros outros conflitos se seguiram e sempre por diferentes motivos. Fruto da investigação apurada que caracteriza esta página, conseguimos chegar às principais forças motrizes de tanta (mas tanta) violência.
Livre acesso a armas em vários países, com tantas regras para andar armado na rua como para ser porteiro de discoteca - enganei-vos! Pensavam que eu ia brincar e falar de uma série de coisas que não têm nada a ver com o assunto para apresentar de forma irónica o quanto nos tentam jogar areia para os olhos, não pensavam? Nada disso, neste texto só vou falar de coisas sérias. Prometo.
Tamagotchis - uma das maiores febres dos anos 90, que levou crianças um pouco por todo o Mundo a dizer alegremente a frase "olha, o meu morreu!". Isto levou a que muitos meninos e meninas crescessem a pensar que, quando um animal de estimação morria, bastava enfiar-lhe uma pequena peça de plástico, portanto, no rabo e ele voltava à Vida. Como consequência, a Morte passou a ser encarada como um fenómeno temporário e por isso andamos desde tenra idade à pedrada com outros meninos e meninas, com pequenas peças de plástico no bolso para lhes enfiarmos, portanto, no rabo.
Rock 'N Roll - A razão mais popular dos anos 50 aos anos 2000, de Elvis Presley aos Audioslave. Os guitarrinhas juntaram à sua natureza violenta uma forte influência Satânica - os Black Sabbath navegaram alegremente a fama de terem criado o "Acorde do Diabo", os Led Zeppelin nunca desmentiram o rumor de terem feito um acordo com o Mafarrico e os Rolling Stones ainda hoje cantam a sua "Sympathy For The Devil" - o que fez uma série de gente vestir-se exclusivamente de preto, andar sempre mal disposta e juntar-se para ouvir gravações de matanças do porco com o som no máximo. É possível que a conotação Satânica se tenha iniciado por superstição e incompreensão? Não. É possível que o gosto musical não influencie o estilo de roupa e vice-versa? Não. É possível que as pessoas ouçam esta música simplesmente porque gostam e não porque queiram desmembrar toda a gente que conhecem? Absolutamente não. E provavelmente andam todos metidos na droga.
O racismo que nos é ensinado praticamente desde que nascemos, porque as pessoas que nasceram com as características ou a nacionalidade certas é que são boas e os outros querem é roubar os nossos empregos - sim, eu sei que disse que não ia falar mais em parvoíces que não têm nada a ver com o problema, mas isto é uma página de humor.
Tatuagens do Bollycao que tinham droga - sim, é verdade, um dos maiores mitos de muita infância confirma-se. Existiam mesmo estupefacientes nos brindes que saíam no famoso bolo à base de massa e diabetes, até porque só isso é que justifica que eu tenha comido tantos e ainda assim tenha sido descrito como "um menino reguila". E foi graças a pequenas películas de plástico embebidas em cocaína, que se gravavam na pele com água quente, que eu me tornei Phil Rambo, um ex-operacional das Forças Especiais dos Estados Unidos que nunca saiu de Portugal e nunca foi à tropa. Mais do que provar que a violência chega de todas as formas, isto prova também que a droga em Portugal é como o combustível: já foi acessível a todos e não íamos buscar tanta a Espanha.
Videojogos - a mais recente fonte de violência neste Mundo. Linhas e linhas de código indecifrável (não há de demorar muito até alguém ver lá mensagens subliminares, aguardemos) escritas com o único fim de levar quem joga a imitar aquele rapaz Alemão. Sim, aquele do vídeo. E são tantas e tão profundas as sequelas que ficam nos jogadores que eu ainda hoje acordo com suores frios e a gritar quando sonho com o nível 7 do Super Mário - o das consolas da feira - e ainda hoje tenho surtos de violência incontrolável quando penso no último adversário do Mortal Kombat. Mas as influências não ficam por aqui, nem sou eu o único afectado. Se procuram o verdadeiro culpado dos massacres nos Estados Unidos, podem apontar com toda a razão o dedo à Nintendo, que criou uma lista interminável de bichos e deu aos jogadores de Pokémon a missão de apanhá-los todos. Como? Derrotando-os em combate, pois claro. Isto leva as frágeis mentes jovens a ver um agrupamento de 800 pessoas e a pensar: "nem é tarde nem é cedo, apanho-os todos e é já". Impossibilitados de utilizarem o famoso Ataque do Trovão, é no entanto apenas uma questão de tempo até um deles usar o Lança-Chamas.
O facto de sermos uma espécie naturalmente violenta e estarmos constantemente a criar mais e melhores formas de nos matarmos uns aos outros, para além haver quem lucre absurdamente com o estado de guerra permanente em que estamos desde 1945 - chega de falar em parvoíces. Já para o quarto, Filipe Alexandre! E não me respondas!
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