Benfica 5 - 0 Paços de Ferreira

Fica-me mal dizer que gostei bastante da postura do Paços neste jogo? Para os Benfiquistas sei que não fica, mas pode haver algum especialista em resumos do YouTube que, ao ler isto, fique a bufar e a dizer "os Lampiões são sempre a mesma coisa, ganham por muitos mas dizem que o adversário jogou bem. Jogou bem porque abriu as pernas, assim também nós ganhávamos!" com aquele tom de voz que vocês também imaginaram. Porque a verdade é que gostei mesmo de ver o Paços a vir à Luz jogar sem medo e a conseguir até mandar no jogo, para mim isso mostra que os menos grandes estão a crescer e que, no fim, vai ganhar quem for mesmo o melhor. E se mesmo assim continuarem a achar que só digo isto porque goleámos novamente, pensem que podia ser pior. Podia dizer que o Douglas deve ter família em Itália, porque é um Tanque com motor Ferrari. Ou que o Marco Baixinho esteve impecável nas bolas altas. Ou altinhas, se quiserem parvoíce a sério.

Vamos lá então começar a embandeirar em arco. Eu não sei (e duvido que algum de vocês saiba) o que é que se diz a uma Equipa que acaba a primeira parte a ganhar 2-0, mas que não está a jogar grande coisa. Mais do que isso, também não sei como é que se faz uma Equipa ouvir essas palavras sem arrancar a cabeça ao treinador. Mas o Bruno Lage deve saber, porque a nossa segunda parte mostrou que foi exactamente essa a conversa ao intervalo. Talvez saber mais de bola a dormir do que nós alguma vez saberemos acordados ajude, mas ainda tenho que confirmar isso. Uma coisa que ele não sabe fazer é desligar o Benfiquismo do Samaris e posso prová-lo. Porque soube, por fontes priveligiadas, que antes do jogo o nosso Treinador pediu ao médio Grego que, perante uma Luz cheia, não mostrasse que é mais Benfiquista que alguns adeptos. O Senhor Benfica riu-se deste pedido, provavelmente até agora, e isso resultou num aplauso de toda a Catedral quando ele foi substituído, mesmo não tendo começado bem o jogo. E até numa substituição feita para os adeptos mostrarem respeito pelo amor à Camisola o Cruijff de Setúbal esteve bem.

Lembram-se de quando começou a moda de jogarmos com um defesa direito adaptado? Primeiro foram extremos a jogar a defesa direito, depois foram centrais a jogar a defesa direito e quando chegámos ao ponto de adaptar médios defensivos a defesa direito eu pensei que já nada que me surpreendia. Até começar esta época, em que jogamos com um extremo esquerdo adaptado a defesa esquerdo adaptado a defesa direito, que neste jogo marcou um golão e fez duas assistências, uma das quais - como se não bastasse - para o Pizzi. Se me disserem que o nosso próximo defesa direito é o Air Bud, venha ele. Falando no Pizzi, não sei a quem foi que ele disse "bom passe, bom passe", mas se foi o Médio Mais Influente da Europa (vou resumir isto a Maestro daqui para a frente) a dizê-lo, é porque foi. E agora que já me curou do trauma dos penalties, já manda em todo o jogo do Benfica e já é Capitão, só falta o Maestro aprender a marcar livres directos para alguém me fazer esquecer finalmente o Simão Sabrosa.

Há, no entanto, um problema. Não de táctica ou de condição física, mas sim de postura. Porque quem vê o Benfica em campo pensa que a nossa Equipa é um conjunto de amigos que se junta para jogar à bola e cilindrar adversários. Ninguém está de trombas, ninguém reclama com o treinador e toda a gente se abraça nos golos. Somos neste momento uma versão profissional da equipa do 12º ano a jogar contra os putos do 5º num torneio inter-turmas. E eu gosto dos sapos fritos com salada a acompanhar, já agora. Mas deve ser difícil não estar descontraído quando se olha para a defesa e se vê que, se por acaso o ataque correr mal, está lá o Rúben Dias para limpar o lance, fazer mais um passe magistral para reiniciar o ataque e perguntar "'tás a dormir, c%#$lho?". E logo ali ao lado, com a classe e a educação de quem rouba a bola a um adversário e lhe dá uma manta e um cházinho para o consolar, está o Ferro, um homem que domina melhor a bola com a cabeça do que eu alguma vez consegui dominar com as mãos. E estes dois centrais estão tão preparados e concentrados que não se deixam surpreender nem pela coisa mais improvável do Mundo: um passe errado do Florentino, esse monstro com a classe de um Pirlo, a garra de um Davids e a omnipresença de Nosso Senhor Ljubomir Fejsa.

E tem piada que, numa Equipa que marca golos atrás de golos, os avançados sejam elogiados principalmente pelo empenho sem bola. A começar pelo Raúl, que foi contratado por 20 milhões de euros ao Real Madrid (é, já fazemos negócios desses), mas parece que tem uma vida inteira de Benfica, pela forma como se entrega quando veste o Manto. Se for como a maioria dos Espanhóis e festejar com a mesma intensidade com que trabalha, tenho que combinar um copo com ele. O facto de levar dois jogos oficiais sem marcar faz-me acreditar que, quando marcar o primeiro de muitos, o Samaris vai celebrar como um doido. Falando em tipos que trabalham que se fartam mas custam a marcar, tinha que acabar com o Haris, que falhou todas as oportunidades em que teve tempo para tudo - incluindo ir à bancada buscar a bola depois de uma rosca - mas que, quando não teve tempo para pensar por estar pressionado, marcou um golo quase por reflexo. Por isso, a bem do Futebol, deixo um apelo aos nossos adversários: ponham três jogadores a marcá-lo em todos os jogos.

CARREGA BENFICA!!