Filipologia
- Filipe Pires
- 16 de jul. de 2019
- 3 min de leitura

E ao 16º dia do mês de Julho do ano de 2019 (doravante conhecido como Dia Zero), Filipe foi a uma repartição de Finanças para iniciar actividade enquanto Líder Supremo da Filipologia, a ciência assente na crença de que Filipe é um indivíduo extremamente atraente. Quando colocada perante a intenção de Filipe, a herege funcionária do Estado disse que uma ciência assente numa crença não é uma ciência. É uma superstição, uma religião ou, no caso da Filipologia, uma grave falta de vista. Foi então dito a Filipe que as superstições não são tributadas, que as religiões são livres de impostos sobre todos os tipos de enriquecimento que têm (mesmo o ilícito, graças a deus) e que devia dirigir-se rapidamente a um oftalmologista.
Depois de tecer um comentário que só seria percebido como insulto quando a herege encostasse a cabeça na almofada - motivando uma exclamação de "olha que filho da p...!" - Filipe encontrou na fila alguém que apreciou a sua visão liberal do que deve ou não ser considerado uma ciência, e que o convidou para uma sessão de cartas. Sendo um fã confesso da bisca dos 9, Filipe aceitou o repto e sentou-se com o seu primeiro seguidor a uma mesa, aguardando a sua mão para jogar. Ao ver que o primeiro Filipino estava, isso sim, a jogar uma espécie de solitário com cartas da feira, Filipe perguntou ao seu São Pedro o que raio estava ele a fazer, mas por palavras menos eloquentes. Perante a indagação, o seguidor mostrou-se admirado por Filipe não conhecer o Tarot, o jogo de cartas que ajuda a preparar o futuro, ao que Filipe respondeu que conhecia apenas jogos de cartas que ajudam a estragar o futuro, como o Blackjack, o Poker ou a Batota.
Perante isto, o seguidor explicou ao Mestre que as cartas que deitava na mesa fazem parte de um sistema científico baseado no acaso, que esse sistema indica potenciais caminhos para várias situações da Vida e que não tem um autor definido. Para além de não ter autor, também não tem mestres, apenas uma série de auto-didactas com mais ou menos experiência, pelo que não existe ninguém realmente capacitado para ensinar os outros a vaticinar o futuro. Concluiu então o discípulo que, para ser um bom tarólogo, basta acreditar no que se faz, jogar as cartas e cobrar 60 cêntimos mais IVA por minuto. Quando questionado por Filipe sobre se não bastaria pensar para saber o que fazer nas várias situações da Vida, o discípulo explodiu numa intensa e honesta gargalhada, dizendo que se toda a gente começasse a pensar, ele e os seus colegas tarólogos ficariam sem "emprego". Porque ao pensar, toda a credibilidade da astrologia se esvai. Porque quem pensa desdenha a adivinhação e ignora a influência que os restos de uma mariscada têm no futuro, principalmente se o marisco não for fresco. E porque, tal como a Filipologia, a astrologia é uma ciência sem base científica, e que funciona assente na firme crença de quem a usa para enganar, perdão, ajudar e de quem é enganado, perdão, ajudado por ela.
E agora, um aparte: acusem-me de muita coisa, mas não de falta de dedicação: ando há três dias a ler sobre astrologia para escrever este texto, com a única finalidade de vos fazer rir. Continuando.
Armado com este conhecimento, Filipe desceu do cimo das escadas da Loja do Cidadão e deu ao Mundo duas folhas A5, onde apontou os Mandamentos da Filipologia:
- Guardar todos os dias para festas e os Domingos para as ressacas;
- Não Matar, a não ser que haja uma fila com alguém que não sabe o que quer;
- Não pecar contra a castidade, mas não por falta de tentativa;
- Desejar uma mulher que geralmente tem próximo (ou próxima) e/ou está grávida;
- Usar o nome de Filipe em todas as circunstâncias, nomeadamente na circunstância de dizer "Filipe, não digas asneiras"
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