Benfica 1 - 2 Anderlecht
- Filipe Pires
- 11 de jul. de 2019
- 5 min de leitura

Quando se queixarem dos vossos trabalhos, pensem que por estar a trabalhar perdi o primeiro jogo da época do Benfica e o último jogo da carreira do Jonas. É ainda assim imperativo que faça o meu melhor para escrever isto. Porquê? Porque é o Benfica.
Vistas bem as coisas, até foi bom que se tivesse feito a despedida do Pistolas logo aos 10 minutos. É lógico que esse foi o momento escolhido porque ele é e será sempre um 10 histórico na Luz, mas acima de tudo foi boa ideia porque foi como um penso rápido: foi de repente e nem teve tempo de doer. Depois disso cumpriu-se à risca a ideia de apresentar os jogadores aos adeptos e jogaram todos. Mas todos mesmo. É que não falhou um. Jogou tanta gente ontem que eu fiquei à espera que me ligassem para ir também. Sem ter visto o jogo e sem ter sequer ideia de quem fez o quê, não me vou arriscar numa análise mais pormenorizada, até porque isto é para rir. Analisar é o que eu faço para sustentar este vício.
Há no entanto tradições a cumprir e uma das mais bonitas celebra-se no dia do primeiro jogo do Benfica. Vamos então a mais uma edição de "Quem É Este Gajo?"
Raul De Tomás: não sei. Usa na camisola as iniciais R.D.T., que soam a uma mistura de nomes de um golpe de luta-livre e um insecticida. Tem mais aspecto de toureiro (ou de ser um dos milhares de filhos do Júlio Iglesias) do que de jogador de Futebol e tentou estrear-se a marcar pelo Benfica com um golo do meio-campo em que a bola custou a chegar à área. Ainda bem que assim foi, senão tínhamos hoje mais uma super estrela do Futebol mundial em vez de termos um jogador que precisa de treinar e ganhar ritmo. É melhor assim.
Chiquinho: este por acaso sei. Depois de um breve déja-vu por voltar a escrever sobre ele como reforço na pré-época, fui tentar perceber o que é que um dos milhares de substitutos do Félix que temos no plantel fez durante o jogo. E gostei. Fiquei fã do rapaz desde o jogo com o Moreirense na Luz (em que ele perguntou alto e bom som quem é que não era bom o suficiente para o Benfica enquanto desfazia a nossa defesa) e por isso fiquei contente por ter sido ele a marcar o golo que lhe vai dar vantagem nas discussões de todos os treinadores de esplnada do País.
Caio Lucas: não sei. Enquanto consegui ver o jogo, passou mais tempo no chão do que a fazer as maravilhas que nos prometeram dele, o que me deixa a pensar se não terá saudades das areias da Arábia. É um extremo Brasileiro que precisa de tempo para se adaptar ao Futebol Europeu, se bem que a expressão "extremo Brasileiro que precisa de tempo para se adaptar ao Futebol Europeu" serve para tanta gente que podia descrever uma
etnia.
Jhonder Cádiz: não sei. Lembro-me que marcou um golo ao Benfica no ano passado e sei que se lesionou. E esta frase tão simples tem tanto de bom como de aterrador. Ao lesionar-se logo no primeiro jogo, tem tudo para ser um "reforço" de Inverno, que ou marca três golos num jogo e desaparece, ou marca três golos por jogo e desaparece na mesma, mas por uma quantia bastante impressionante. Mas se o fomos buscar por nos ter marcado um golo, isso é uma aproximação demasiado grande à "gestão" que tivemos entre 94 e 2003, durante a qual toda quem marcasse ao Benfica era contratado, o que resultou na contratação de gente nunca tinha visto uma bola na vida antes de jogar connosco.
Por fim, o fim. Vamos fazer uma breve contagem de números 10 do Benfica: Mário Coluna, Eusébio, Fernando Chalana, Isaías, Yuran, Zlatko Zahovic, Giorgios Karagounis, um tipo chamado Rui Costa, Pablo César "El Mago" Aimar (que eu ainda tenho alguma dificuldade em acreditar que jogou de facto com o Manto Sagrado), Filip Djuricic, Nico Gaitán e outros nomes que a História e o respeito pelo Futebol me levaram a esquecer. Todos eles eram uma de três coisas: ou criativos ou goleadores ou pessoas que nos levaram a pensar que também tínhamos lugar no Benfica. E depois apareceu um tipo que foi as duas primeiras coisas. Se não se importarem, vou falar directamente para esse tipo. Porque se alguém com cara de empregado das Finanças e voz de cana rachada me consegue deixar com um nó na garganta como deixava nós nas pernas dos adversários, esse alguém merece que fale directamente para ele.
Chegaste à Luz a custo zero e quase como um ilustre desconhecido. Seguiram-se 183 jogos, 137 golos e 42 assistências. Para quem gosta de números, é isto. Mas o Futebol não é matemática, é muito mais complicado que isso. Vou ser sincero contigo Jonas: fui um dos muitos que disse que devias ter saído no Verão de 2018. Já não ias para novo, as pernas já pesavam e o amor começava a ficar cansado. Era um fim sem honra nem glória, celebrado talvez com um vídeo que íamos ver até à exaustão e a coisa ficava por aí. A Vida continuava, o Mundo não parava de rodar e um dos melhores jogadores que vi com o Manto Sagrado saía pela porta pequena. Mas tu, com a calma e a classe de quem partia os rins a mais um adversário, mostraste que esse não era nem podia ser o teu fim no Benfica. Voltaste e carregaste a Equipa quase por inércia, quase como se a tua simples presença em campo fizesse do Futebol mais do que um jogo em que 22 homens chutam a bola de um lado para o outro. E fazia. Sempre disse que o Iniesta (o jogador que mais gostei de ver jogar até hoje) pensa o jogo por ele, pelos colegas e pelos adversários. Tu fazias o mesmo, mas com golos. Muitos golos, quase todos decisivos e marcados de toda a maneira e feitio.
Mas eu não me vou lembrar de ti só pelos golos, pelas fintas ou pela classe que parecias transpirar, a classe que me levou a dizer que depois dos jogos as tuas meias cheiravam a Chanel Nº10, o perfume do bom Futebol. Eu vou lembrar-me de ti por dois momentos, um deles de alegria o outro nem por isso. Vou recordar sempre o teu festejo em Setúbal, num jogo em que foste para a bancada por te teres lesionado no aquecimento e em que festejaste como nós o segundo golo do Jiménez, o golo da vitória nessa noite. Vou também recordar a tua frustração em Portimão, quando ficaste tão fulo (para manter a educação) como nós com o acumular de situações que nos estavam a empurrar para um fundo a que não pertencemos e foste expulso por perder a cabeça. Mas mais do que estes dois momentos, vou recordar-te pela humildade com que, sendo tu uma referência incontornável do Clube, aceitaste a tua passagem para o banco e a alegria com que abraçaste o homem que lá te pôs nos golos de quem te substituiu, como se isso fosse possível. Mais do que perfeição que sempre puseste em campo, nós queremos jogadores à Benfica. E tu és um jogador à Benfica. Obrigado por isso Jonas.
CARREGA BENFICA!!
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