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A Volta Ao Mundo Em 80 Doidos

  • Filipe Pires
  • 12 de jun. de 2019
  • 5 min de leitura

Para os mais puristas, que se vão dedicar a contar: não vou contar 80 histórias, não vão estar 80 personagens envolvidas (acho eu) e o texto também não vai ter 80 linhas (acho eu, mais uma vez). Precisava de um título engraçado e saiu-me um trocadilho que, modéstia à parte, ficou bastante parvo. E como não há outro tipo de trocadilhos, também não me pesa muito a consciência.

A nossa volta ao Mundo da parvoíce começa neste nosso cantinho do planeta. Mais precisamente em Abrantes, onde o padre José da Graça e o senhor Pedro Moreira, seja ele quem for, foram condenados por burla e falsificação de documentos (1) referentes ao Projecto Homem, uma iniciativa de reinserção social. Os condenados ficaram com pena suspensa como é óbvio. Há uma força divina que me leva a querer dizer que o senhor José da Graça tramou-se por querer coisas de borla, mas acho que um trocadilho parvo por texto é mais do que suficiente. A maior novidade aqui, para além do facto de um membro do clero ter sido condenado por mamar à grande na teta do Estado, é que a denuncia foi feita por um dos intervenientes na falcatrua - o senhor Pedro Moreira, seja ele quem for - provavelmente porque sentiu a consciência bancária pesada, mas não tão pesada como a dos restantes Metralhas. Um dos factos denunciados dá à história um colorido especial, já que, para efeitos de pagamento de comparticipações do Estado, foram declarados nomes de pessoas que não só não estavam a ser acompanhadas pelo Projecto Homem nas datas indicadas, como ainda por cima estavam presas. Este facto foi confirmado pelos próprios presos e isso deixa-me contente, porque mostra que ainda há criminosos honestos no nosso País.

Por falar em criminosos do nosso País, a guerra colonial custou quase 22 mil milhões de euros ao Estado (2), pelos valores actuais. Isto encerra uma certa ironia, porque as pessoas que lutaram nesta guerra não sabiam que era possível ter "milhões" do que quer que seja. Mais do que isto, é incrível que o custo seja um número tão grande, porque muitos dos intervenientes mal sabiam contar até 10. Este grande motivo para baixas psiquiátricas, reformas antecipadas e racismo avulso ("eu posso dizer estas coisas porque estive no Ultramar") durou 14 anos e, durante esse período, dispensámos 20% da nossa despesa total para garantir que quem queria ser livre continuava apenas a querer (3). No fim das contas, surpresa das surpresas, catorze anos de guerra resultaram em nada mais do que dinheiro jogado ao Ultramar - este até nem foi mau, não comecem - já que cá e lá toda a gente se tornou livre depois de uma roadtrip militar em Abril de 74. Espero que esta notícia cale de vez os hippies que dizem que a guerra é estúpida, porque é mais do que isso. Para além de estúpida, a guerra é estupidamente cara.

Continuando por essa África fora, começou a época de exames nacionais na Etiópia. Esta frase, que podia ser dita numa conversa entre duas pessoas que estivessem sob o efeito de coisas, é notícia devido à forma como o governo Etíope está a lutar contra as fugas de informação sobre a matéria abordada nas provas: suspendendo a internet (4). Desde 2016 que existe esta política, porque nesse ano alguns bravos resolveram levar a peito a velha máxima de que o importante é passar não interessa como, mostrando que por todo o Mundo há pelo menos uma coisa em comum: o sistema de ensino está mais ultrapassado do que eu numa maratona. Em vez de marcar todos os exames à mesma hora ou, no limite, aplicar as restrições apenas às escolas, o governo da Etiópia deixa, há já três anos, todo o País sem internet nesta altura. O que pode não ser tão grave como parece, já que a maioria dos utilizadores da rede está em salas relativamente controladas a responder a perguntas sobre temas que vão ser esquecidos ao primeiro passo na rua. Isto faz com que os restantes utilizadores (os respectivos pais) sejam afectados apenas depois de perceberem pela milésima vez como é que funciona o acesso à internet, uma operação que costuma demorar 10 a 12 horas.

Falando em violações dos direitos humanos, a cidade de Hong Kong quer viabilizar a extradição de pessoas para serem julgadas pelo governo Chinês (5). Tudo bem que isto não é propriamente uma violação dos direitos humanos, simplesmente significa que um criminoso pode ser julgado pelas regras da Chi... esqueçam lá isso, é mesmo uma violação dos direitos humanos. A base para este debate é um crime cometido em Taiwan, em que o principal suspeito é um cidadão de Hong Kong. Se for provado que o crime foi de facto cometido pelo acusado, ele tem que ser punido e isto é um ponto assente. A anarquia é um conceito muito giro, mas é melhor continuar a ser uma coisa que achamos giro quando temos de pagar às Finanças ou quando estamos numa fila atrás de alguém que não consegue decidir se quer uma bica pingada ou escorrida. O problema, voltando ao caso, é que na China escreve-se com símbolos, pelo que um traço a mais ou a menos pode fazer a diferença entre escrever "suspeito" ou "culpado". E o governo Chinês leva muita coisa à risca, mas é um bocadinho liberal na interpretação destas duas palavras.

Um Governo com uma interpretação liberal da lei, uma população vigiada pela internet e sem direitos reais e muito pouca preocupação com os direitos humanos. Para quem critica tantos os governos comunistas, os Estados Unidos são incrivelmente parecidos com eles. Mas por muito divertido que seja criticar O Coisa que habita a Casa Branca, vou fazer o que ele não gosta e vou dar atenção a outra pessoa. Kay Ivey aprovou a castração química de todos os condenados por abuso sexual de crianças (6). Kay é governadora da Sweet Home Alabama - onde os testículos vão passar a ser tão azuis - e aprovou uma lei com alguns pontos a rever. Primeiro porque só é aplicável se as vítimas tiverem menos de 13 anos, o que significa que ser punido ou não desta forma é apenas uma questão de timing. A seguir, o tratamento tem de ser pago pelos criminosos, o que parece uma boa ideia até nos lembrarmos que a medicação nos Estados Unidos custa pouco menos do que alugar uma casa em Faro. Não vai levar muito tempo até que muitos condenados se vejam forçados a escolher entre a venda de um rim para a toma de uma injecção e um regresso à cadeia. Prevêem-se tempos muito aconchegados nas prisões deste estado, o que pode ser má ideia considerando o tipo de pessoa que se está a juntar em molhos. E por fim temos a eficácia do próprio tratamento, já que a sua suspensão pode resultar na reversão dos efeitos. Por muito que se queira dar um castigo condizente com o crime, neste momento a castração química de homens é apenas uma forma de mandar dinheiro para esse sítio.

(1) https://www.publico.pt/2019/06/12/sociedade/noticia/padre-abrantes-condenado-cinco-anos-prisao-pena-suspensa-burla-falsificacao-1876163

(2) https://zap.aeiou.pt/guerra-colonial-217-mil-milhoes-portugal-261800

(3) https://www.gee.gov.pt//RePEc/WorkingPapers/GEE_PAPERS_122.pdf

(4) https://www.publico.pt/2019/06/11/mundo/noticia/etiopia-desliga-internet-impedir-alunos-divulgar-exames-1876101

(5) https://www.publico.pt/2019/06/09/mundo/noticia/gigante-manifestacao-vida-morte-hong-kong-1875919

(6) https://www.jn.pt/mundo/interior/pedofilos-terao-que-ser-castrados-apos-cumprirem-pena-no-alabama--11002639.html?utm_source=jn.pt&utm_medium=recomendadas&utm_campaign=beforeArticle

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