Ai Portugal, Portugal...

O nosso buraquinho à beira-mar plantado faz hoje 840 anos (1). A maior consequência que um par de estalos alguma vez teve foi reconhecida como País a 23 de Maio de 1179 pelo Papa da altura. Isto só prova que a igreja católica já teve um período em que era um pouco mais liberal em relação àquela coisa do respeito aos pais.

Mas não foi isto que motivou este texto. Juro pelo que quiserem que escrever isto neste dia é uma consequência digna da astrologia. O mote para este escrito veio, isso sim, de Luís Xavier, habitante do Pinhal Novo (2). Talvez por saber que se aproximava esta efeméride - e conhecendo a demora típica da justiça Portuguesa, já que tudo se passou em Abril de 2018 - Luís Xavier resolveu celebrá-la honrando a forma como D. Afonso Henriques tomou o Condado Portucalense a D. Teresa de Leão, mas talvez com entusiasmo a mais. Porque se o nosso primeiro Rei aviou duas valentes solhas na Mãe, o senhor Luís aviou a Senhora que devia ter sido mais informada sobre contracepção com vários pontapés na cabeça, asfixiando-a em seguida e espetando-lhe, já depois de consumado o crime, uma caneta no pescoço e outra nos olhos. Quando foi a tribunal, ontem, Luís Xavier disse aos juízes: "A minha mãe era a minha melhor amiga, com quem me dava excelentemente bem e se fosse hoje não faria aquilo." Com filhos destes, quem precisa de inimigos.

O primeiro argumento do criminoso foi a ansiedade, mas a sua defesa entretanto já começou a trabalhar para provar que Luís é esquizofrénico. Se bem que uma coisa não invalida a outra, porque num dia ele pode ser ansioso, no outro depressivo e no seguinte pode ser aquela jóia de rapaz que ninguém acreditava que fosse fazer uma coisa destas. Se achavam que o bom gosto ficava por aqui enganaram-se, porque ainda faltam os motivos do crime. Na tarde em que tudo aconteceu, Luís deslocou-se a casa da Mãe e a senhora, sendo Mãe, ofereceu-lhe o lanche. E a prova de que este tipo não é gente boa é que ele recusou esse mesmo lanche. Feito pela Mãe. Como se ele fizesse melhor, o boi. O motivo para a recusa prende-se com o facto de a Dona Albertina ter o mau hábito de espalmar o pão para ele caber na torradeira, o que Luís levou a mal porque, adivinharam, é uma ofensa religiosa. Ao que parece, para este chalupa a fatia que a senhora ia usar para o alimentar representava o corpo de cristo, pelo que a ofensa teve de ser reparada rezando um pai nosso. Como a Dona Albertina se recusou a fazê-lo inicialmente e, depois de agredida para aceitar, cometeu o sacrilégio de trocar versos à oração, a besta do filho cometeu o crime acima descrito. Podemos dizer sobre este caso que Luís Xavier é um técnico de ar condicionado a quem faltou cabeça fria.

E se para a maioria de nós a melhor coisa do Mundo é o amor de uma Mãe pelos filhos, para uma senhora de Braga a melhor coisa do Mundo é o que ela consegue com o amor da filha (3). Nos últimos dois anos, uma "mãe" da cidade dos arcebispos (ironia tramada esta) trocou uma série de favores sexuais da filha por dinheiro para comprar álcool que, segundo a própria, a dominava. Para convencer a menor a deitar-se (digamos assim) com o próprio cunhado, esta "mãe" disse a uma adolescente de 13 anos que aquele dinheiro era preciso para pagar a sua alimentação e a da sua irmã. O que até podia ser verdade, se esta "família" se alimentasse à base de sopas de cavalo cansado. O que eu acho é que esta "senhora" concorda comigo em relação à velha máxima "o importante é ter saúde e dinheiro para os copos", mas talvez com demasiado ênfase na parte do dinheiro para os copos. Como é lógico, tanto a "mãe" como o cunhado foram considerados culpados, condenados a indemnizar a menor e também a pena de prisão. Mas como é lógico, a pena foi suspensa. Estamos em Portugal, não se esqueçam disso. Para além disto, a "mãe" perdeu os direitos parentais durante os próximos 5 anos, mas acredito que isso não lhe faça muita diferença. Não custa nada perder o direito a ser uma coisa que nunca se foi.

Por fim, a entidade responsável por julgar estes dois crimes, o Ministério Público, já anunciou que vai gastar mais um pouco do nosso dinheiro numa investigação que, em princípio, não vai dar em nada (4). Joe Berardo, um tipo que me faz sempre lembrar o Zé Colmeia por motivos que me ultrapassam (e não, não lhe estou a chamar urso), tem a sua fundação "debaixo de olho" do Ministério Público. Após uma apurada investigação, o Portal do Algarve chegou à conclusão de que esse é o mesmo olho que o empresário, perdão, chulo Madeirense anda a alargar há já vários anos, com recurso a avançadas técnicas de sodomia financeira e que alargaram a bacia das finanças públicas em 61,5 milhões de euros, só em dívidas à Caixa. Somando tudo o que o empresário, perdão, chulo Madeirense deve, as dívidas rondam um valor de 1000 milhões de euros. O que significa que o caso vai rapidamente cair no esquecimento colectivo para que o Estado se possa focar no que é realmente essencial, como penhorar a casa a um desgraçado que deva 500 euros às Finanças. Como dizia um outro senhor também famoso por abrir olhos: "aguenta e não chora".

(1) https://www.noticiasaominuto.com/pais/1257927/portugal-esta-hoje-de-parabens-faz-840-anos

(2) https://www.jn.pt/justica/interior/mata-a-mae-por-trocar-versos-do-pai-nosso--10925857.html

(3) https://recordeuropa.com/noticias/portugal/obriga-filha-a-ter-sexo-por-20-euros-23-05-2019/

(4) https://www.noticiasaominuto.com/pais/1257146/fundacao-berardo-debaixo-de-olho-do-ministerio-publico