Benfica 6 - 0 Marítimo

Antes de mais, ciência. Nos últimos meses, a Psicologia tem vindo a aprofundar o estudo de uma doença, que parece abater-se principalmente sobre desportistas insulares e que se caracteriza por tremores e esquecimento de como se pratica Futebol. O termo técnico para descrever esta patologia é Estasemanavoujogarnaluzofobia e os jogadores do Marítimo foram os últimos a ser diagnosticados com ela. A acrescentar a esta maleita, os jogadores do Marítimo saíram esta noite da Catedral a sofrer de depressão e de stress pós-traumático. Porque o Florentino pode ser capaz de recuperar a posição e de recuperar uma bola atrás da outra, mas nada recupera a auto-estima de onze homens que foram anulados por um miúdo de 19 anos.

Continuando no Marítimo, quem vai precisar de terapia ainda mais aprofundada que o restante plantel são os dois jogadores que levaram um nó do André Almeida na primeira parte. E sobre o Cafú de Loures, é hora de encararmos os factos: já marcou golos com os dois pés, não me lembro de nenhum mas de certeza que também já marcou com a cabeça e esta noite tentou uma bicicleta que levantava o Estádio se tivesse resultado. A somar a isto, hoje fez mais duas assistências e cerca de 267 cruzamentos que valiam meio golo, mas que o Seferovic falhou - há noites assim, em que a bola não entra nem com cruzamentos do Mestre. Posto isto, eu quero saber quando é que a UEFA vai dar ao troféu de melhor defesa do ano o nome do André Almeida. E mais do que isto, quando é que decretam que o prémio vai ter sempre o mesmo vencedor enquanto o Mestre André jogar.

E só não digo que o único concorrente à altura do prémio é o Ferro porque, se o fizesse, ia logo ser acusado de embandeirar em arco e de me esquecer de uma lista interminável de defesas lendários. E eu não me esqueço de ninguém, simplesmente acho que o Ferro vai ser melhor do que todos eles. E parece-me que toda a Equipa concorda comigo, pela insistência em passar-lhe a bola mesmo que haja alguém em melhor posição ou menos pressionado. E se acham que o gosto por ver o Ferro com a bola é exclusivo dos Benfiquistas, vão ver o lance em que o avançado do Marítimo tentou atacar a bola, mas rapidamente se rendeu à evidência de que a ia perder e a deixou seguir até ao Nesta de Oliveira de Azeméis. Mas talvez a classe, o posicionamento, a leitura de jogo e a qualidade de passe deste menino sejam exageradas pela presença do Senhor Capitão Rúben Dias. Porque comparar os passes do Rúben Dias com os passes do Ferro é o mais próximo que estamos de visualizar a expressão "é o olho do cú e a Feira de Castro."

Depois da ciência, religião. Porque esta noite o árbitro Luís "T-1000" Godinho praticou o milagre de marcar uma falta sobre o Cervi e de mostrar o amarelo que se exigia na situação. E já que estamos na Páscoa, nada como saudar o renascimento precisamente do pequeno Franco, que pode não ter marcado os dois golos que vão decidir o Campeonato, mas pelo menos souberam a isso. Gosto mesmo muito deste rapaz e ele já merecia uma noite destas há muito tempo. No fundo, o Cervi é como aquele filho traquina que parte um escaparate de cada vez que visita a casa dos avós, mas a quem se perdoa isso por ter salvo tantas vezes o gato da família de um prédio a arder. Falando em tipos que são vítimas de bullying futebolístico, o Samaris ontem começou a sofrer as consequências da sua nova Vida. Porque se antes ninguém se atrevia sequer a respirar alto junto do Senhor Benfica (já renovaram com ele?), agora os adversários aproveitam-se da sua natureza calma para fazerem sucessivas faltas/agressões e os árbitros, sabendo que o Grego vai ter com eles um debate filosófico e enriquecedor em vez de lhes arrancar um braço à dentada, deixam andar.

E agora, silêncio que se vai falar de Pizzi. O Maestro que, numa noite chuvosa como a de ontem, foi a personificação dos versos de "You'll Never Walk Alone" - mítico hino do Liverpool - que nos diz que, quando andamos no meio da tempestade devemos manter a cabeça alta. Porque no fim da tormenta está um céu dourado e o doce som dos pássaros que anunciam a calma ou, como se fala do Senhor Luís Fernandes, o toque subtil e a recepção orientada que vão iniciar mais um ataque implacável à baliza adversária. Com isto, o homem que atormenta os pesadelos de Luka Modric e Ivan Rakitic conseguiu mais um golo e uma assistência, desta vez para o João Félix, que continua a curar-me do trauma dos penalties. Depois dos três que marcou contra o Frankfurt, hoje a terapia começou com um castigo máximo batido exemplarmente na sequência de um canto. Depois disso, o João conseguiu ainda mais um golo e uma assistência que um dia me farão chamar-lhe João Vieira Costa Félix, mas isso já não é novidade nenhuma. Por fim, só me falta falar do melhor amigo dos roupeiros do Benfica, o intemporal Jonas. E digo isto por um motivo muito simples: enquanto as meias dos restantes jogadores cheiram a toda a espécie de cruzamentos entre animais mortos na berma da estrada e queijos com dois anos de cura, as meias do nosso Ancião cheiram a Chanel Nº 10: o perfume do bom Futebol.

CARREGA BENFICA!