Benfica 2 - 2 Belenenses
- Filipe Pires
- 12 de mar. de 2019
- 3 min de leitura

O Benfica jogou? Quase não prestei atenção. Eu prefiro desportos de pavilhão. Acho mais bonito, existe competitividade saudável e a festa é muito mais do povo do que nos estádios. Há mais proximidade com os atletas, que acabam também por ser mais humildes e disponíveis. Acho que isto vem do meu passado no desporto escolar, tanto no andebol como no futsal. Sigo muito mais esses desportos do que o chamado desporto-rei. Tanto que se repararem, quase nunca escrevo sobre futebol.
Mas há mais. Num pavilhão ninguém iria insultar a velhota que esteve em campo do lado do Belenenses. E se houve coisa que me custou, foi ver os adeptos a fazer coro para chamar nomes à Dona Muriel. Mas por outro lado, acho bonito que o Benfica, com a dimensão que tem, consiga ainda assim levar o espírito das modalidades para o relvado. A começar pelo amadorismo do Vlachodimos, que em solidariedade para com Carlos Bossio (fora de brincadeiras, um grande abraço para ele) resolveu deixar passar um remate dirigido à baliza, convencido de que ia para fora. Talvez fosse boa ideia incluir nos exames de pré-época uma visita ao oftalmologista, porque aquele golpe de vista está uma miséria. Sem ir muito mais longe, o Senhor Capitão Rúben Dias recordou-nos que apesar das duas épocas que já tem na equipa principal, ainda é capaz de cometer os erros que cometia quando entrou na formação. Desejo ainda assim uma rápida recuperação das paragens cerebrais que afectaram os dois jogadores e que deixaram mazelas: a primeira paralisou-me o queixo, a segunda paralisou 14 milhões de pessoas e o próprio tempo.
Continuando na senda de amadores, ora viva Sr. João Capela! Quero antes de mais deixar aqui um grande abraço também para o senhor árbitro, que conseguiu ser mais criativo a inventar faltas e a parar o nosso jogo (já de si pouco activo) do que quem desenhou o novo símbolo do Belenenses. E também deve cobrar menos, porque só inventa quando apita jogos do Benfica. Mas eu percebo porque é que ficaram dois (três?) penalties por marcar a nosso favor: em nenhuma das situações a bola sobrou para um jogador do Benfica em condições de criar perigo. E essa era a única forma de o Sr. Capela marcar uma falta a nosso favor. Mesmo que a bola já estivesse do outro lado do campo e nós estivéssemos em contra-ataque, o Sr. árbitro fez sempre questão de marcar a falta que ia beneficiar o infractor. Notaram-se no entanto alguns problemas de comunicação com Gonçalo Silva, capitão do Belenenses. Talvez por não ter recebido o aviso de que neste jogo dava para bater à vontade, o central do adversário optou por se desviar quando teve uma excelente oportunidade para derrubar o João Félix dentro da área. Era na boa Gonçalo, não era falta de certeza.
Mas nem tudo foi amador. Pareceu que foi, mas não. Por exemplo o Samaris levou a peito aquela coisa de ocupar a posição do nosso melhor jogador, arrancando uma exibição digna do melhor Gabriel que vimos esta época. Apareceu um pouco por todo o lado, tanto a defender como a atacar, arrancou para lances individuais sempre que se pedia e conseguiu ocupar os lugares vagos no autocarro que o Belenenses usou para transportar toda a população do Restelo para o relvado da Luz. Foi também neste jogo que se reuniu a dupla talismã daqueles jogos em que o Benfica deixa tudo em campo menos a qualidade. Tanto tempo depois da última vez, voltámos a ver uma assistência do André Almeida para o Jonas. Tal como um Dom Quixote precisa de um Sancho Pança, ou um Robin dos Bosques precisa de um João Pequeno, o Pistolas também precisa do Cafú de Loures.
Mas mais do que uma referência para o jogo ofensivo da equipa e alvo do único passe em condições que o Almeida fez, Jonas foi também um Tartaruga Genial para o Son Goku que é João Félix. Enquanto o miúdo se fartou de correr e de tomar decisões precipitadas - ainda que com boa intenção - o ancião do nosso ataque, do alto dos seus quase 400 anos, mostrou que a experiência nunca é demais. Já como tinha acontecido contra o Galatasaray, bastaram dois toques na bola para Jonas pôr ordem no caos em que se estava a tornar o nosso ataque e fazer o primeiro golo. Com a graça de um artista marcial que já não tem o potencial que tinha aos 20 anos, mas que sabe mais daquilo a dormir que todos os outros acordados.
CARREGA BENFICA!
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