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Doom: Edição Infantil

  • Filipe Pires
  • 9 de mar. de 2019
  • 4 min de leitura

Ponto prévio: não tenho nada contra pessoas que sejam contra medicação. Acho que são malucos, mas não tenho nada contra. São maiores (e vacinados, ironicamente) e por isso podem tomar decisões em relação à sua saúde sem mais ninguém ter de arcar com as consequências disso. Em última instância hão-de falecer a comer pastilhas elásticas, vítimas de uma doença que se curava perfeitamente com um antibiótico. Chamam a isto uma cura natural, Darwin chamou-lhe Selecção Natural. E o desfecho da sua história é, portanto, natural.

O meu problema começa quando supostos adultos querem impor aos filhos a irresponsabilidade que escolheram para si. Começando por quem acha que a toda a Vida é sagrada, ao ponto de preservar uma forma de Vida empenhada em acabar com a nossa. Adivinharam, vem aí paródia da boa à conta de quem não vacina os filhos. Porque como se não bastasse andarem a criar pequenas fossas com pernas, estes argumentos a favor da abstinência sexual são também o género de pessoa que pensa que as coisas más só acontecem aos outros. E só isso é que justifica que um casal Francês (mais uma vez, maior e vacinado) tenha levado o seu filho (menor e não vacinado) numa viagem à Costa Rica, onde a criança foi identificada como a origem do reaparecimento do sarampo por lá (1).

Esta família levou ao extremo o eufemismo que se usa quando se é hospitalizado - "fui passar férias a um hotel de luxo" - porque passaram de facto uma semana das suas férias em isolamento num hospital. Este casal de génios claramente precisa de uma régua para medir as consequências da sua estupidez (ou para levar com ela no lombo), já que no mesmo avião seguiam mais de 300 pessoas, entre passageiros e tripulantes, que depois seguiriam os seus caminhos espalhando a doença do contagiante fruto do amor Francês. Este não é o único caso de contágio de sarampo vindo de França, sendo que um dos países com surtos causados por Franceses foi o nosso. Mas tentem eles o que tentarem, nunca pediremos desculpa pelos feitos de Sua Majestade, o Rei Éder.

O que é que pode ser mais estúpido do que não vacinar crianças por causa de parvoíces que se lêem na internet? Exacto, é acreditar num ervanário que diz que a insulina é veneno para um diabético (2). Disse então Timothy Moron, perdão, Morrow, que os pais de um adolescente com diabetes tipo 1 podiam substituir a insulina que administravam ao filho por uma mistura de ervas e óleo de lavanda. O que equivale a dizer que o senhor Moron, perdão, Morrow, trata diabéticos com sabonetes. E sim, obviamente que o rapaz morreu meses depois de os pais terem acreditado não só na pantominice inicial, mas também quando lhes foi dito que a degradação da saúde do filho era uma - preparem-se - "crise de cura" e que levarem um rapaz que mal respirava ao hospital seria fatal para ele.

A bizarria podia ficar por aqui, mas esta história aconteceu nos Estados Unidos. Um país que parece porreiro apenas para quem mata crianças por oferecer armas em caixas de cereais, mas que também é bem porreiro para quem mata crianças por aldrabice. Porque o senhor Moron, perdão, Morrow, para além de poder continuar a exercer foi condenado apenas a 4 meses de prisão (este caso aconteceu em 2014 e por isso a pena já foi cumprida), para além de ter de pagar uma indemnização de 4.400€ e todos os custos do funeral do jovem que matou. Como tempero final, o tribunal decretou que se o senhor Moron, perdão, Morrow, for novamente implicado numa situação destas, pode ser acusado de homicídio. Este caso parece-me ter sido julgado principalmente por justiça popular, assente na legislação do ditado "à primeira todos caem".

E já que se fala nos Estados Unidos e em estupidez parental, em 2017 um casal aceitou pagar a mais alta factura por não vacinar o filho (3). Porque 720.000€ é a mais alta factura que eu vi na minha vida e porque o casal encarou sem problemas a alta probabilidade de o filho morrer a brincar na rua. Foi quase isso que aconteceu no Oregon (estado vizinho do Tomaton e do Alfaçon), quando uma criança de 6 anos se cortou a brincar, tendo a ferida sido depois desinfectada e suturada em casa. O que parecia ser só mais um dia normal de qualquer infância resultou no aparecimento de sintomas uma semana depois, quando o único inocente daquela família começou a ranger os dentes e a ter espasmos musculares.

Depois de discutirem quem foi que deixou a criança ver O Exorcista, os pais resolveram ir ao hospital, onde lhes disseram que o seu rebento estava a rebentar com tétano. Seguiram-se quase dois meses de internamento, sedação e medicação para as dores. A criança vai ter todas estas histórias para contar aos filhos porque os responsáveis pela sua presença neste Mundo foram irresponsáveis ao ponto de recusar vacinação contra o tétano ou qualquer outra doença. No fundo este casal quer ensinar o filho sobre o dia-a-dia na Austrália: de cada vez que ele sai à rua, qualquer coisa o pode matar.

O único ponto positivo destas histórias é que estas crianças nunca vão ser adultos iguais aos pais.

(1) https://www.jn.pt/mundo/interior/menino-frances-por-vacinar-levou-o-sarampo-para-a-costa-rica-10630338.html

(2) https://magg.pt/2019/03/02/ervanario-considerado-responsavel-pela-morte-de-jovem-diabetico-apos-substituir-insulina-por-ervas/

(3) https://observador.pt/2019/03/08/crianca-nao-vacinada-contraiu-tetano-e-precisou-de-dois-meses-e-700-mil-euros-para-sobreviver-pais-recusaram-nova-dose-da-vacina/

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