Dínamo Zagreb 1 - 0 Benfica

E ao décimo quinto jogo, Bruno Lage mostrou que é humano. Quando falar aos meus filhos sobre o lendário Benfica que ganhou tudo o que havia para ganhar sob o comando do Cruijff de Setúbal, um deles há de me dizer que um amigo adepto de outro clube lhe falou de um jogo em Zagreb, em que perdemos e merecemos perder. Vai ser nessa altura que eu me vou elevar enquanto pai, vou perguntar ao meu filho qual foi o amigo que lhe disse isso e vou aplicar aos dois o nacional par de estalos, porque esta é uma noite que tem de cair no esquecimento o mais rapidamente possível.

Mas mesmo jogando assim, este Benfica faz-me acreditar em coisas que há pouco tempo me pareciam impossíveis. Como uma desmarcação nas costas da defesa para receber um passe que rasga o campo, participação de toda a equipa na construção de jogadas de ataque ou golos de bola parada. E é um Benfica que, fazendo acreditar os adeptos, desperta também dúvidas nos adversários. Principalmente quando dissermos que fomos o Clube que formou o Florentino - o homem que vai fazer esquecer Claude Makélélé - ou quando dissermos a toda a gente que foi no Seixal que se formou o Ferro - o homem que podia andar sobre brasas sem lhes dar tempo para o queimar. Quando conseguirmos convencer quem nos ouve de que isto aconteceu, vai parecer natural que tenhamos ganho tantos títulos nos anos que se seguem.

É também este Benfica que vai dar ao Mundo um novo tipo de guarda-redes. Se até aqui ouvíamos falar de guardiões com olhos nas mãos ou nos pés devido à excelente colocação de bola, no futuro vamos ouvir falar de guarda-redes com luvas nos olhos. Não porque o Vlachodimos jogue às cegas, mas porque hoje ficou algumas vezes pregado ao chão, a desviar remates com o olhar. Finalmente, este é o Benfica que ensina sempre alguma coisa nova aos jogadores. Por exemplo, esta noite o Grimaldo aprendeu que o Gabriel só falha passes de ruptura quando está completamente esgotado e não aos 25 minutos. O que é estranho é que isto aconteceu depois de o Espanhol aparecer completamente isolado na área dos Croatas depois de um passe de ruptura, adivinharam, do Gabriel.

Como um mal nunca vem só, para além de termos perdido a primeira mão perdemos também dois jogadores. O Seferovic para alguns jogos e o João Félix para o jogo de hoje. Mesmo não sendo um prodígio da qualidade individual, o Suíço é um daqueles jogadores para quem não há gestão, só há esforço. Há um lado alarve em mim que quer dizer que, já que 14 é o dobro de 7, o Seferovic também é duas vezes melhor que o Ronaldo. Mas não vou dizer que o Seferovic é duas vezes melhor que o Ronaldo. Se há coisa que nunca me vão ouvir dizer é que o Seferovic é duas vezes melhor que o Ronaldo. Finalmente, o homem que o substituiu. Franco Cervi, um jogador de quem eu gosto tão incontornavelmente como é incontornável para ele o tempo em que não jogávamos futebol, tínhamos aulas de ginástica. Mesmo muitos furos abaixo daquilo que me levou um dia a dizer que ele é Di Maria, Gaitán e Pablo Aimar num jogador só, este rapaz continua fiel a si mesmo e a esforçar-se em cada lance para voltar ao que sabemos que ele é. O que resulta num facto engraçado: o Cervi tem tantas faltas assinaladas sem as cometer como tem faltas cometidas sobre ele que não são assinaladas.

CARREGA BENFICA!