Benfica 2 - 1 Sporting - Amador de Bancada

A única coisa que passou do tempo Sr. Rui para o tempo do Bruno Lage foi uma total ausência de nervos. Há um mês os nervos eram substituídos por conformação, agora são substituídos por uma expectativa que tornam os dias antes do jogo numa espécie de Natal. Esta perspectiva natalícia estende-se ao próprio banco de suplentes, que esta noite parecia composto exclusivamente pelos miúdos que acompanham os jogadores na entrada em campo.

Dentro do campo, o jogo começou com uma demonstração de fidelidade do Tiago Ilori ao Jorge Andrade. Para quem não viu, um dos melhores centrais da nossa História - o Jorge Andrade, entenda-se - fez ontem à noite uma coisa que raramente fez em campo: meteu uma argolada. Esta raridade aconteceu quando o Sr. Andrade disse que, se ainda jogasse, dava um pisão ao João Félix logo no início do jogo para o miúdo se esconder. E o Tiago do Sporting lá foi tentar fazer exactamente isso, logo no primeiro minuto. Mas esqueceu-se de um pormenor essencial para quem quer dar sarrafada sem consequências em Portugal: não joga no Porto. Depois disto o Tiago deixou o João em paz, mas ainda assim o nosso criativo continuou a ter pouco espaço em campo, fosse por acção de Sebastián Coates, de Nemanja Gudelj ou do elemento mais incansável nessa tarefa esta noite, o árbitro Luís Godinho.

Luís Godinho que, diga-se, parece um Pierluigi Collina posto numa máquina de secar que reduza também o talento para a arbitragem. Se eu fui procurar o que é que faz encolher a roupa? Fui sim senhor. Mas continuando a falar dos seus méritos, para além de ter conseguido anular o João Félix - que é um bocadinho como a pizza, mesmo jogando menos bem continua a ser bastante bom - Luís Godinho conseguiu também inventar a falta que deu o golo do Sporting e conseguiu acima de tudo mudar um paradigma do nosso "Futebol". Se até hoje os árbitros davam tempo de compensação até o Sporting marcar, daqui para a frente vão dar livres frontais ao Bruno Fernandes até acontecer o mesmo.

Falando em patrões do meio-campo, faltam-me mais as palavras para descrever os jogos do Gabriel do que faltam sobremesas na cantina quando ele vai almoçar. Quem o viu até aos 60 minutos deste jogo deve ter visto o mesmo que via quem se lembra do Senhor Coluna. Entre as bolas que recuperou, o golo e tudo o que fez para levar a Equipa para a frente é natural que tenha acabado o jogo exausto. Quase tão exausto como eu estava de o ver ser titular até há um mês atrás, antes de ele me calar. Falando no golo do Gabriel, é obrigatório falar do que lhe deu origem. Se Chuck Yeager foi o primeiro homem a ultrapassar a barreira do som com um veículo terrestre, Eduardo Salvio foi o primeiro a ultrapassá-la com um par de chuteiras, depois de aparecer vindo sabe-se lá de onde para resolver uma embrulhada no meio-campo e de tomar uma das suas raras boas decisões: passou a bola a alguém melhor posicionado que ele.

Depois disto e até aos 75 minutos continuámos a jogar sozinhos e por isso pouca coisa justifica que não tenhamos resolvido esta meia-final já hoje. Houve ainda assim tempo para a estreia do Francisco Ferreira - o Ferro - que entrou para o lugar do Jardel que, adivinharam, lesionou-se. Mesmo sendo o primeiro jogo do miúdo na primeira equipa, entrou sem medos e com a confiança de quem sabia que ia jogar ao lado do Senhor Capitão Rúben Dias - já agora, estão à espera de quê para dar de vez a braçadeira ao rapaz? - e que por pouco não marcou também. Mile Svilar aproveitou também para dizer presente e para se demarcar um pouco mais da sombra de Michel Preud'Homme, porque sempre que tem de sair da baliza parece que quer acabar com todos os corações que Saint Michel salvou. Até ao nosso apagão quase colectivo ainda aconteceu o segundo golo, no momento mais cósmico da noite. Porque quando o Tiago do Sporting se voltou a aproximar do João Félix fez o quê? Exacto, um auto-golo. Nada do que eu pudesse escrever aqui me faria rir mais do que esse momento, e vivo muito bem com isso.

CARREGA BENFICA!