Sporting 2 - 4 Benfica - Amador de Bancada
- Filipe Pires
- 3 de fev. de 2019
- 4 min de leitura

Não se via uma humilhação tão grande em Alvalade desde a reeleição do Bruno de Carvalho. E mesmo tendo no ex-presidente uma espécie de Osama Vale e Azevedo, o Sporting continua a mostrar que não o esqueceu, passando nos ecrãs da bancada a frase: "Sou Doente". Piadas à parte, faz falta ao Sporting algum do espírito Brunista, para continuar a missão de devolver o Sporting aos Sportinguistas, mas desta vez focada na devolução do próprio Estádio de Alvalade aos Sportinguistas. Porque esta noite, aquela merda foi toda nossa.
Falando agora do jogo, este foi um derby espectacularmente jogado, até ao triste momento em que a Liga entrou em campo. Mas compreende-se a necessidade da intervenção, uma vez que o Benfica está a tornar-se a equipa que mais dificulta a vida aos árbitros, insistindo em jogar futebol e em fazer golos com uma qualidade que não se via há muito. Tudo isto leva a que um árbitro demore mais tempo a validar um golo do Benfica do que um guarda-redes adversário demora a bater um pontapé de baliza, mas com o lado bom de termos mais tempo para ver o Benfica jogar, já que cada parte tem meia-hora de compensação. Olhando para os dois treinadores, foram visíveis as dificuldades em ambos os lados. Sempre que as câmaras focavam o Bruno Lage, notou-se uma clara dificuldade para não se desfazer a rir com o banho de bola que demos esta noite. Já do lado de Marcel Kaiser, foi notória a confusão de ver um jogo contra um rival que não foi a Alvalade só para passar o tempo. Mais do que isso, o Holandês ficou confuso quando percebeu que o novo Johan Cruijff afinal estava no outro banco.
Em relação aos jogadores, tenho que começar por saudar o desportivismo do Bas Dost, que quando viu um dos poucos erros da nossa defesa esta noite fez questão de devolver a bola ao Vlachodimos, para que pudéssemos recomeçar a construção da oitava maravilha do Mundo - o nosso ataque organizado. Já o Bruno Fernandes falhou em relação ao respeito pelo bom futebol, porque nas mesmas circunstâncias rematou em força e para golo. Mas não podemos levar a mal a atitude do rapaz, porque um bom jogador numa equipa pequena tenta sempre dar nas vistas em jogos destes. Continuando na linha de jogadores com falta de fair-play, hoje notou-se que esta não é a melhor característica do Senhor Capitão Rúben Dias. Para além de ter anulado uma linha avançada inteiramente amadora como se estivesse a jogar um derby a sério, ainda subiu à área adversária para mostrar que até lá consegue ser melhor a marcar e a tirar golos do que todos os avançados e defesas adversários. Juntos.
Devo no entanto um pedido de desculpas ao Senhor Capitão e a toda a defesa, por todas as vezes em que joguei as mãos à cabeça e disse "não arrisques esses passes aí, c#$%lho!". Aconteceu apenas por falta de hábito e por não saber até hoje que cada um deles é um pequeno Guardiola. Sim, até o André Almeida.
Continuando a construir como gosta Bruno "Cruijff" Lage - a partir da defesa - é bonito ver que o Jardel chegou finalmente à fase "Luisão" da sua carreira. É um patrão, manda e sabe que manda, também já ganhou cabelos brancos no lugar (embora nunca tenha visto o Luisão grisalho) e hoje vive os nossos jogos como se trabalhasse numa repartição pública: não é para fazer, é para ir fazendo. Já não tem a raiva que o levava a rachar a cabeça em todos os jogos, mas tem a experiência que leva os adeptos adversários a rachar a cabeça contra a parede. Porque enerva a capacidade que ele tem para cortar tudo o que lhe aparece à frente. Falando em jogadores que enervam adversários, o Samaris parece cada vez mais o irmão mais velho de toda a Equipa. Sempre que alguém cai, sempre que há uma entrada mais dura ou quando há confusão no geral, lá vai o nosso Grego dizer aos jogadores adversários, ao árbitro, aos adeptos e a quem mais o quiser ouvir todos os sítios que podem visitar nas próximas férias. Sempre num Português perfeito.
Ao lado do Samaris esteve um outro rapaz. Que hoje fez uma abertura no primeiro golo que mais parecia um pontapé na boca de quem disse que ele só era bom a passar para trás e para o lado. E que depois disso só me partiu o coração mais duas vezes à frente da área, quando tentou pensar em vez de despachar a bola de qualquer maneira, mas que conseguiu a partir daí dar razão a quem o defendia. Acho que todos vocês deviam pedir desculpas ao Gabriel. Ficava-vos bem.
Do meio-campo para a frente, o que vi esta noite parecia uma orquestra. A começar pelo João Félix, que se comporta como um cantor de ópera: está rodeado de gente com talento, mas é ele que vende os bilhetes. Pelas alas, um dueto de cordas com o Rafa e o Pizzi a jogarem como o Yngwie Malmsteen e o Joe Satriani tocam. Não me perguntem o que é que fazem duas guitarras eléctricas numa orquestra, eu só sei que resulta. Na metáfora e em campo. Já o Seferovic é o tocador do bombo - bombista, talvez? - que não está lá para ser brilhante, está lá para ser eficaz. Depois de encaixar bem com o Jonas, está a encaixar bem com o João Félix, o que significa que talvez seja uma das peças mais importantes desta engrenagem. Marca o ritmo, segura as pontas quando toda a gente quer fazer solos ao mesmo tempo e tem a única função de fazer toda a confusão de desmarcações dar em golo. E cumpre. Chamem-lhe "um 9 clássico" ou chamem-lhe "cepo", mas chamem-me "feliz".
CARREGA BENFICA!
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