Juvenal Gaudêncio - Que Estrabucho É Este?

Em criança, uma das grandes questões na minha cabeça era o porquê de, nos filmes, o escape cómico ser sempre o gordo. Especialmente porque, sendo eu na altura uma espécie de boneco da Michelin em ponto pequeno, revia-me demasiado nessa noção de que o gordo servia para pouco mais do que fazer rir. Como não fui educado para me achar uma vítima, avancei com a minha vida e comecei também eu a rir-me daquelas situações em vez de tentar impedir os outros de rirem de uma coisa só porque eu não gostava dela. Mas mantive sempre a ideia de encontrar um gordo que não entrasse em filmes só para fazer rir e hoje, no dia 21 de Novembro de 2018, graças ao imenso trabalho de investigação que caracteriza esta rubrica, encontrei-o finalmente. Falamos hoje sobre Juvenal Gaudêncio, o herói de filmes de acção com excesso de peso.

Nascido em 1970, Juvenal cresceu fã de cinema, em especial do cinema de acção. Não de acção caseira, sua cambada de rebarbados, mas filmes de acção a sério, que o próprio descreve como "a prova de que o cinema precisa de um gordo para os heróis brilharem". Dá então como exemplo o seu papel em John Rambo - o quarto da série - em que, segundo Juvenal, "o Stallone só conseguiu eliminar todo o exército da Birmânia porque eu tinha andado por lá antes a comer o arroz todo. E como é lógico, os soldados Birmaneses ficaram sem alimento e sem terem onde se esconder." Questionado sobre mais alguns dos seus melhores papéis, o actor não hesita em apontar Die Hard With A Vengeance, que conta também com a participação de Samuel L. Jackson. Neste filme, Juvenal desempenha um papel central na história, saltando de um banco com 20 centímetros para abrir um gigantesco buraco no meio de Wall Street, graças ao qual Simon Gruber (interpretado por Jeremy Irons), consegue roubar todos os bancos do distrito financeiro de Nova Iorque, com recurso a camiões.

Quando esforça a sua memória de elefante, Juvenal Gaudêncio fala-nos sobre outras grandes peças cinematográficas que o marcaram fora do seu género preferido. Começando pela trilogia original de Star Wars, um drama intergaláctico em que Jabba The Hutt (o herói de toda a trama segundo o actor) é brutalmente assassinado no terceiro filme "por rebeldes terroristas depois de ter levado à justiça um dos seus comparsas". Mas desengane-se quem achar que para Juvenal interessa apenas o cinema fantasioso, já que este peso-pesado [esta foi um bocado gratuita, eu sei] do cinema revela-nos também o seu interesse pela vertente documental da sétima arte, tendo especial carinho por Indiana Jones, uma "escola de arqueologia e gastronomia, especialmente pela cena do banquete em The Temple Of Doom".

Quando finalmente quisemos saber quais são as referências e inspirações para as actuações de Juvenal Gaudêncio, os nomes Chris Farley e John Beluschi saem ainda mal acabámos a pergunta, seguidos de um momento emocional, em que o actor teve dificuldade em conter as lágrimas quando reproduziu, totalmente em personagem, as imortais palavras de José Raposo (o seu confesso ídolo de toda a vida) nesta cena de O Rei Leão: