top of page

O Recreio - Que Estrabucho É Este?

  • Filipe Pires
  • 6 de nov. de 2018
  • 4 min de leitura

Gosto muito da minha professora da primária. Ainda hoje tenho grande estima por essa senhora que me deu a educação básica e que ajudou os meus pais na tarefa de fazer de mim aquilo que sou hoje. É graças ao que aprendi nessa altura que hoje escrevo com regularidade e que consigo ler e interpretar com sentido crítico as notícias ou qualquer coisa que me dê ideias para o fazer. Portanto as reclamações são com ela, se fazem favor.

Mas a estima que tenho pela minha professora da primária não faz com que me comporte como nessa altura. E acredito que não seja o único a ter esse tipo de simpatia para com as professoras do ensino básico deste Mundo, mas isso não é nem pode ser motivo para nos comportarmos como se a Terra fosse na uma gigantesca escola primária. A começar (e isto é uma irritação perfeitamente gratuita, mas que quero partilhar aqui) pelo facto de haver gente adulta que se trata pelos dois primeiros nomes, ou pelo primeiro e último no caso de não haver segundo. Quando ouço dois adultos a tratarem-se assim ou a falar de uma terceira pessoa (o desporto preferido de meio Mundo) como se ainda fosse preciso diferenciá-la por nome entre 20 crianças com pais igualmente originais, começo a acreditar que o Mundo é uma enorme fábrica de Taiwan, em que a maioria dos empregados são crianças.

Mas adiante.

Em mais um exercício pleno de oportunismo e criatividade, hoje compara-se o micro cosmos do recreio com a realidade Mundial. E eu tenho mesmo que começar a dormir mais à noite.

O puto estranho que está num canto a fazer refogados de cola com terra: os Estados Unidos da América. E a malta que diz que tourada é cultura.

Os engraçadinhos: a malta do humor. É, não evoluímos muito ao longo da vida. Na escola, o engraçadinho usa a rapidez de pensamento para fazer piadas sobre tudo e mais alguma coisa e, principalmente, para chatear. Na idade adulta, o engraçadinho usa a mesma rapidez de pensamento mas na internet, para fazer piadas sobre tudo e mais alguma coisa e, principalmente, para chatear. Tudo porque nos disseram que o sentido de humor é a coisa mais importante e porque rir ajuda a ultrapassar o facto de sermos gordos. E usarmos óculos. E de irmos sempre à baliza mesmo usando óculos, o que resulta inevitavelmente em encolher-mo-nos nos remates e em alguém a dizer: "não te encolhas que a bola não morde!". E de não termos amigos na infância. E a esquecer o bullying. E isto está a ficar demasiado pessoal, passemos à frente.

O queixinhas: tal como a malta do humor, também não evoluem muito. Um queixinhas na primária tem uma alta probabilidade de se tornar um queixinhas profissional quando cresce, aumentando apenas o raio de abrangência e os meios com que exerce a sua actividade. Na primária o queixinhas recorre sobretudo às pernas e à fala para se queixar de um menino que chutou a bola com muita força, ou que dois meninos andaram à pancada ou de alguma coisa que um engraçadinho disse. Na idade adulta, o queixinhas recorre sobretudo à censura nas redes sociais e a argumentos sem nexo para se queixar de um menino que tem mais sucesso do que ele, de um menino que pensa coisas com que ele não concorda ou de alguma coisa que um engraçadinho disse. No fundo, o queixinhas é o que mais odeia - um engraçadinho - sem o que mais odeia - o sentido de humor. São felizes à maneira deles e é deixá-los ir, até baterem com a cabeça numa parede porque andam sempre a olhar para o que os outros fazem.

Os atletas: os países do Norte da Europa, da América do Sul e da África. São pessoas que crescem com uma ideia comum: dar tudo por tudo para ser alguém na vida. Seja por educação, por força de vontade, por instinto de sobrevivência ou pelas três juntas, a verdade é que a maioria das pessoas que alcançam o topo e se mantêm por lá durante mais tempo são de uma destas zonas do globo.

Os moles: o Sul da Europa, a América do Sul e África. Se é no Norte da Europa que mais pessoas se esforçam por ser bem sucedidas, é cá por baixo que mais gente se encosta ao "deixa-andar" e à firme certeza de que tudo se resolve, nem que seja com ajuda de outros. E como muitos países da América do Sul e de África foram colonizados por nós, muita gente partilha essa mentalidade.

Os auxiliares: a Alemanha e a França. Fazem andar a escola pelo simples facto de impedirem que as crianças se matem entre elas e por emprestarem dinheiro ao Sul da Europa e não nos deixarem morrer à fome. É a eles que o resto do continente se queixa: seja o Norte a queixar-se da preguiça do Sul ou o Sul a queixar-se da arrogância do Norte, hoje em dia tudo passa por eles. Na sua juventude arranjaram confusões de meia-noite um com o outro, mas depois de crescerem perceberam que têm mais a ganhar em manterem-se vivos mutuamente. E a França agradece.

Os professores: o Canadá, a Suíça, as Nações Unidas, a União Europeia e o FMI. São os chefes da escola e são eles que tomam as últimas decisões, quando os auxiliares já não dão conta do recado. Seja porque o puto estranho começou a comer o refogado, porque o engraçadinho disse alguma coisa engraçada de que eles não gostaram porque os atingia, ou porque já têm tanta vontade de partir a boca ao queixinhas como todos os outros. É para eles que os auxiliares se viram quando os atletas e os moles estão a dar pancada de criar bicho uns nos outros ou naquele outro miúdo estranho que cheira a caril e de quem até eles têm medo, porque sabem que ele tem um temperamento explosivo.

Comments


 
 próximos EVENToS: 

 

22 e 23 de Abril de 2017:  1º Torneio Solidário de Futebol de Rua do Algarve

 

Data a designar:  1ª Academia de Escrita Criativa do Algarve 

 

Data a designar:  Próximo Evento

 

Data a designar:  Próximo Evento

Um bilhete de entrada para o algarve: 

 

O Portal do Algarve mostra-te o que de melhor se faz na nossa região. 

Aqui, poderás actualizar-te sobre os últimos acontecimentos desde a cultura à politica, passando pela sociedade e religião. Fica a par das melhores estas do Algarve, peças de teatro e cena, exposições, eventos desportivos e culturais. Damos-te a conhecer as figuras publicas da região e jovens como nós, mas "com um Q de especial". Nada te escapará.
Tira já o teu bilhete e vem connosco conhecer todo o Algarve deste mundo.

Siga o portal do algarve: 
 POSTS recentes: 
 procurar por TAGS: 

Todos os direitos são reservados. Qualquer copia integral ou parcial constitui crime punível pela lei.

bottom of page