Nacional Porreirismo - Que Estrabucho É Este?
- Filipe Pires
- 24 de out. de 2018
- 3 min de leitura

Portugal é um País porreiro. Sem brincadeiras, é mesmo. Temos um clima que agrada a toda gente, temos muitos sítios por onde passear e temos fartura de coisas para ver. Temos finalmente um governo que está a conseguir dar a volta aos anos maus que passámos recentemente e que conjuga perfeitamente os seus poderes com a monarquia instituída a 10 de Julho de 2016, quando passámos a ser governados por Sua Majestade, o Rei Éder. Também temos o hábito de chegar atrasados às modas que vêm de fora e esse hábito está tão enraizado que até pensamos que o que há de mau nos outros países não chega aqui ao nosso cantinho. Mas chega.
Oh lá se chega.
De fininho, a enganar toda a gente, mas mais cedo ou mais tarde tudo o que é estupidez que se faça por fora vem cá parar. Começou pela televisão. Durante anos a maior importação televisiva que tivemos foram as clássicas novelas Mexicanas, das quais eu segui alguns enredos. Passava muito tempo com a minha avó e nos anos 90 era impossível dizer a palavra "velhota" sem dizer "novela Mexicana" logo a seguir. Mas depois disso, e depois também de chegarem as novelas Brasileiras em forma de avalanche, começámos a importar a chamada "reality TV". Falo obviamente do Big Brother, a porta de entrada para admitirmos que todos gostamos de bom cinema maroto, principalmente em horário nobre. A partir daí foi sempre a descer. Não muito porque não estamos a falar de um programa de grande elevação, mas ao menos não saíram tantos pseudo-famosos da primeira versão de forrobodó em directo como das seguintes. Agora que penso nisto, talvez as celebridades destes programas sejam como o herpes que contraem lá dentro: são chatos, de vez em quando aparece mais um e espalham-se depressa.
Enquanto íamos vendo seres humanos a ser tratados como gado de criação nas televisões generalistas, começámos também a importar valores morais de outros países. Curiosamente na mesma proporção e curiosamente por culpa das mesmas pessoas: os guerreiros da justiça social, dos quais Carlos Alberto Moniz disse que devíamos ser amigos (1). Sempre que chega a Portugal um novo programa de ribaldaria da boa, este rebanho de defensores da moral e bons costumes vai a berrar para o sofá, para ver bois e vacas a fazer aquilo que os bois e vacas fazem e para votar em quem vai ser o próximo novilho a andar pelos bares do país, para nos intervalos dizerem a toda a gente como são tão incrivelmente mais santos e melhores que os outros.
Mas convém não confundir os guerreiros com burros, que esses sempre existiram mas ou são burros sozinhos e não fazem mal a ninguém, ou são burros para uma audiência limitada e também acabam por não fazer grande estrago. O guerreiro da justiça social é diferente, porque acha que a sua burrice é na verdade inteligência e que por isso toda a gente ganha com o conhecimento que ele derrama na fossa da internet. Um guerreiro da justiça social é um burro com banda larga e mente estreita, que se diz liberal e defensor das liberdades, desde que concorde com elas. É uma criatura muito Especial, que defende a liberdade para quem vive na mesma caixinha que ele, ao mesmo tempo que defende a morte de quem lhe mostre que existe mais Mundo para ver, ou simplesmente de quem vive no Mundo que não é o seu. À medida que derruba as barreiras do que é aceitável, o guerreiro levanta as barreiras do que é aceitável. Não sei se isto faz muito sentido, mas só assim é que consigo descrever a forma de "pensar" destas "pessoas".
Por enquanto isto não é um problema muito grave por cá, mas mais cedo ou mais tarde Portugal chega ao nível dos outros. Oh lá se chega.
(1) https://www.youtube.com/watch?v=Ega9mhfXZkM
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