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A Seita - Que Estrabucho É Este?

  • Filipe Pires
  • 18 de set. de 2018
  • 3 min de leitura

Uma coisa que pouca gente sabe de mim é que, durante cinco anos da minha vida, fiz parte de uma seita. Cheguei mesmo a ocupar um lugar de alguma importância dentro dela e confesso que ainda hoje sinto alguma ligação aos seus costumes e até alguma vontade de lá voltar. Como Setembro é o mês mais importante para quem esteve lá dentro, por ser o mês da entrada de novos membros e do reencontro dos mais antigos, este texto é sobre os cinco anos em que segui a doutrina de líderes incontestados e omniscientes, mesmo quando cheguei a um nível equiparável ao deles.

No início não foi fácil, devo confessá-lo. Sempre olhei de lado para a autoridade, principalmente a que me era imposta. Existiu um choque de convicções entre mim e os priores responsáveis pela recepção de novos membros, até que decidi aceitar a verdade que me ofereciam como minha, por ver que não era muito diferente da que eu defendia e porque dois anos de experiência dentro do culto são razão mais que suficiente para impor vontades. Dentro do primeiro ano de culto, a primeira semana foi a mais importante para aprender os valores do sub-grupo da seita onde entrei (e que nada têm a ver com os valores dos outros grupos ou com uma boa educação trazida de casa) e para aprender os cânticos a entoar nas celebrações conjuntas e contra os outros sub-grupos. Foi também na primeira semana que nós, os iniciantes, escolhemos um ou vários dos priores que nos acolheram para nos orientarem nos confusos caminhos da seita, com conselhos sempre válidos sobre os melhores sítios de convívio entre membros, as melhores formas de prevenir despertares desagradáveis, ou para nos ajudarem com documentação ancestral sobre as diversas vertentes do conhecimento abordadas durante a nossa permanência no culto.

No segundo ano, a bem da verdade, a presença dos iniciados no ano anterior faz tanta falta como uma escova de cabelo numa ala de oncologia. Quem chega ao segundo ano pouco mais tem a fazer alem de absorver os ensinamentos dos priores máximos, enquanto espera pela sua vez de acolher novos e (não raras vezes) iludidos membros, convencidos de que a entrada naquele ramo da seita lhes dá a garantia de um futuro seguro e risonho.

Mas é exactamente isso que os membros que chegam ao terceiro ano tentam incutir nos seus pupilos. Porque chegados ao terceiro ano de seita, a vontade de quem lá chega também já é lei, ainda que muitas vezes seja ultrapassada por membros mais velhos que não aceitam abdicar do poder, ou que precisam desse mesmo poder para se sentirem melhor com o facto de as ilusões do início se estarem a revelar, de facto, apenas ilusões. E também para se sentirem melhor consigo próprios, claro. Foi neste ano que senti pela primeira vez verdadeiro orgulho em ter escolhido esta vertente, porque foi neste ano que, sendo duro no processo de iniciação como foram comigo, fui também escolhido por três dos meus pupilos para os orientar dentro dos pontos já explicados anteriormente. E continuo a ter o mesmo orgulho neles que tive nessa altura, principalmente porque estão os três em melhor situação do que eu. Enfim, quando a malta tem amigos nos sítios certos já se sabe no que dá.

O quarto e quinto anos dentro da seita foram, no meu caso, preparação para a deixar. Foram os anos em que passei menos tempo dentro dos rituais de iniciação e mais tempo a ultimar os meus conhecimentos. Foram, devo dizê-lo, tempos em que não via a hora de deixar a seita para trás e começar um novo capítulo, levando no bolso os ensinamentos que tinha adquirido até aí, bem como todos os sonhos e esperanças que eles me davam, sempre com a certeza de que o Mundo se tinha limitado a esperar que eu estivesse pronto para o conquistar. E depois conheci o Mundo e percebi que a coisa não era bem assim.

Que mais é que posso dizer? Só mesmo que os anos da Universidade foram os melhores da minha vida. Soa a frase batida (e é), mas é absurda e absolutamente verdade.

P.S: as Semanas Académicas ficam para mais tarde. É um capítulo que merece ser explorado em exclusivo e eu não tinha grandes ideias para o incluir neste texto.

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