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Eu Tinha Um Cão - Que Estrabucho É Este?

  • Filipe Pires
  • 28 de mai. de 2018
  • 2 min de leitura

Em Outubro de 1999 mudei de casa. Eu e a minha Família, como é lógico. Pouco tempo depois (admito que no natal desse ano ou em Janeiro do ano seguinte) deram-me um cão. Uma bola de pelos a que se chamou, em memória de um outro cão, Rambóia.

A juntar ao Rambóia tinha uma cadela (Lassie, como é óbvio), que foi uma mãe adoptiva para ele. Mesmo com esse nível de "parentesco", ainda tiveram alguns filhos, porque os cachorros comem a própria mãe, a sua irmã e as suas tias. Ficam grudados, amando-se de quatro em plena luz do dia (1). Considerando a diferença de tamanhos, o meu cão merecia uma Licenciatura numa engenharia qualquer, com o respectivo tacho governativo. Pelo trabalho envolvido naquela manobra e pelo talento que ele tinha a fazer amor por trás com os mais pequenos. Tinha histórias suficientes com aquele cão para escrever um livro. Entre fazê-lo correr atrás de mim para não saltar cercados e eu a correr atrás dele quando ele os saltava, fizemos bastante exercício juntos.

Mas aos 16 anos, o Rambóia não era o mesmo. Era impossível que fosse. Estava velho, andava mal e via ainda pior. Como gostávamos muito (mas mesmo muito) dele, achámos que o melhor era dar-lhe um fim digno e acabar com um sofrimento que só se arrastaria para não sermos nós a sofrer. Por egoísmo, portanto. Nesse dia, ninguém foi bater à porta de casa dos meus pais a dizer que era imoral tomar essa decisão. Ninguém disse que aquele cão não podia morrer só porque nós não queríamos que ele sofresse mais. Não se organizaram vigílias, não houve debate televisivo e ninguém da igreja se pronunciou sobre a moralidade ou a ética daquela decisão. Até porque alguém podia tropeçar na ironia de uma religião a falar de ética e depois, se ficasse com sequelas da queda, era moralmente errado ajudar a acabar com o sofrimento. Aquela decisão foi, para todos os efeitos, a melhor coisa que podíamos ter feito a um animal de que gostávamos muito. Era um animal a que só faltava mesmo falar e, se falasse, as suas últimas palavras haviam de ser alguma coisa parecida com "obrigadinho, sim?"

E se nos deixaram acabar com o sofrimento de um ser irracional, porque é que alguém racional não pode tomar essa decisão por si mesmo? Toda a vida tem dignidade e toda a vida merece acabar com alguma. Seja a do meu cão ou a de um doente terminal que pode preferir uma morte tranquila a dias, semanas, meses ou anos de sofrimento. É absurdo confundir o direito à vida com a negação da morte.

deus queira que um dia estas pessoas gostem tanto de quem está doente como eu gostava do meu cão.

(1) Este é o melhor texto que já escrevi, simplesmente pela referência aos Mamonas: https://www.youtube.com/watch?v=_YhGYNysWpQ

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