Acelera Ayrton! - Que Estrabucho É Este?
- Filipe Pires
- 1 de mai. de 2018
- 2 min de leitura

O Mundo e a História são cruéis. No dia 30 de Abril de 1994 morreu Roland Ratzenberger, nos treinos de qualificação para o Grande Prémio de San Marino. Uma tragédia quase esquecida, porque quis o humor negro do destino que no dia seguinte morresse o Maior Piloto de sempre, o que transformou a primeira morte numa tragédia remetida às notas de rodapé dos episódios mais trágicos do automobilismo. Por isso mesmo, faz-se aqui a homenagem ao piloto Austríaco logo no parágrafo inicial.
Contam-se pelos dedos as vezes que me lembro de ver correr o Sr. Senna da Silva. Se me perguntarem pelas quatro ultrapassagens na primeira volta em Donigton (1) com uma chuva torrencial, digo-vos que não vi. Se me falarem da rivalidade com o Alan Prost, digo-vos que até há pouco tempo não sabia quem é o Alan Prost. Também não me lembro das qualificações suicidas, nem da ferocidade ao volante e nem da condução extra-sensorial deste extraterrestre do voltante.
O que me lembro é que, ao Domingo à hora de almoço, havia o Senna e os outros. Uma grelha com 21 nomes a fazer número e um 22º que soava por si só diferente: Ayrton Senna da Silva. Não havia como não gostar dele. Claro que na altura para mim eram todos o Senna, tal como todos os jogadores de futebol eram o João Pinto e todas as bandas eram os Xutos & Pontapés. Por isso, é difícil para mim falar de alguém que se tornou um ídolo quase por osmose: quem gosta de carros e de corridas, gosta do Senna. Mesmo quem não sabe que uma Pole Position no Mónaco com um segundo e meio de vantagem significa ser quase uma eternidade mais rápido que o segundo classificado, sabe que nunca mais vai aparecer outro igual a ele.
Mas não se pode reduzir um Homem assim a números e factos frios. Se querem uma biografia detalhada, vão à Wikipedia. Levei três parágrafos do vosso tempo para chegar a uma conclusão: a única coisa que me lembro e da qual posso falar em relação ao Brasileiro Supersónico é a aura que o rodeia. Sim, a aura. Aquela coisa na qual os cépticos não acreditam (e eu sou um deles) até aparecer alguém como o Ayrton, que muda as regras e nos faz acreditar que de facto existem predestinados, e que os mortais se podem apenas limitar a admirá-los. Outro dos meus heróis, Jerry Seinfeld, tem uma piada em que diz que os homens nunca desistem realmente de querer ser super-heróis (2). E eu como homem que sou, quando olho para um prédio alto penso que podia andar ali pendurado como o Homem-Aranha. Quando vejo vídeos do Rui Costa penso que também fazia aquele passe que desmontou a defesa do Parma (3). E quando me sento ao volante de um carro penso que podia ultrapassar como o Senna.
Não faço, mas podia.
(1) https://www.youtube.com/watch?v=3GOEorrE4mY
(2) https://www.youtube.com/watch?v=HksnkliM1mQ
(3) https://www.youtube.com/watch?v=wEWEvUIEkAQ
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