A Revolução Dos Cravas - Que Estrabucho É Este?
- Filipe Pires
- 25 de abr. de 2018
- 3 min de leitura

Antes do 25 de Abril é que era bom. Toda a gente tinha trabalho e ninguém pedia nada a ninguém, provavelmente porque ninguém tinha nada para dar. O Português que os Portugueses mais admiram (1) fez tudo o que pôde para nos tirar maus hábitos como comer todos os dias, dizer o que pensamos e acima de tudo quis tornar Portugal num País sustentável, reduzindo a população para metade. Foi também o primeiro a arranjar "jobs for the bois" (2) no governo, com um rebanho de chibos espalhados pelo País a fazer o que o Tuga mais gosta: ficar feliz por ver os outros mais enterrados na lama do que ele. E como é que o Senhor Presidente do Concelho conseguiu o título de Português mais admirado? Por votação. Se eu conseguia escrever uma piada destas? Quem me dera.
Há duas coisas a reter deste sufrágio: o senhor Heimlich devia ter inventado uma versão da sua manobra que resultasse com ironias e ainda bem que Salazar não viu isto acontecer, porque o resultado era capaz de o derrubar da cadeira.
A partir do dia 26 de Abril de 1974, foi sempre a descer. Estávamos lá no topo, com a riqueza bem distribuída pela população de bufos e respeitando a tradição secular de fazer enriquecer os ricos e de mandar arder os pobres. E depois estragaram tudo com uma boa ideia (muito) mal executada: distribuir a riqueza por quem não tinha nada com base num ideal de "quem primeiro chega primeiro se avia". Ora, distribuir o que devia ser de todos com base na destruição de propriedade tem um nome: vandalismo. Tal como tirar à força o que devia ser de todos também tem: roubo. E os bravos revolucionários, que aproveitaram o comboio de uma revolução que não compreendiam para fazerem estas coisas são o quê? Exacto: criminosos.
Depois de estragarmos o (pouco) que tinha sido bem feito, veio ao de cima o nosso lado crava. Ganhámos o hábito de exigir tudo e mais alguma coisa pelo simples facto de termos passado por uma ditadura. Passámos a ter direito a viver à grande sem fazer nada por isso porque já tínhamos sofrido o suficiente. Porque se eu não tenho e tu não me dás, és facho. Porque não foi para trabalhar que se fez Abril. De repente deixámos de ser um País de coitadinhos que viviam oprimidos para passarmos a ser um País de coitadinhos que o tinham sido. A saudade é a palavra mais Portuguesa de Portugal e aparentemente é uma vaca que dá leite durante muitos anos.
Qual é o lado engraçado disto tudo? É que quarenta e quatro anos depois da revolução, continuamos a não ter liberdade. A ditadura saiu do poder e passou para a cabeça do Povo com um nome mais pomposo: o politicamente correcto. Passámos da ausência de liberdade para a ilusão de que a temos. E temos, desde que não se fale em determinados assuntos, nem de algumas pessoas e que não se diga nada que possa ser ofensivo, sob pena de grupos organizados nos denunciarem e lincharem em praça pública. Eu não podia ter escrito a segunda metade deste texto, porque ele vai contra os ideais de Abril. Houve alguém a querer fazer isto em Portugal aqui há uns anos, mas agora não me lembro bem quem foi.
Somos um Povo com preguiça de pensar. Até eu a tenho, porque não consegui um título melhor do que aquele trocadilho.
(1) http://www.rtp.pt/programa/tv/p21257
(2) Vale a pena ver o espectáculo todo, lá pelo meio encontram a referência: https://www.youtube.com/watch?v=eVR0YImHZP8
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