O Homem Que Viveu Doze Vezes - Que Estrabucho É Este?

Estados Unidos. Um pot-pourri de estupidez, que nos surge de todas as formas possíveis e imagináveis. Uma matrioska invertida de burrice porque, ao contrário das matrioskas tradicionais, quanto mais destapamos os Estados Unidos, mais burros eles nos parecem. Ao ponto de, talvez (e apenas talvez), pensarmos que a Coreia do Norte não há de ser tão má como isso, pelo simples facto de não terem que ver o que se passa no esgoto a céu aberto que lidera o Mundo "livre".

Doyle Hamm, 61 anos de idade e não morre nem que o matem. Condenado à morte por assassinar um recepcionista de hotel em 1987 durante um assalto (1) - quando se quiserem queixar da justiça Portuguesa força, porque eles também merecem. Mas continuando, o Sr. Hamm esteve 30 anos à espera de saber se ia ser executado ou não. E trinta anos dá tempo para muita coisa, incluindo ter cancro e sobreviver-lhe, que foi exactamente o que se passou com Doyle em 2014. Devido à doença, o Supremo Tribunal Americano decretou inconstitucional a execução e o homem pensou, com toda a certeza: "olha, sim senhor. Safei-me da justiça e agora é só safar-me ao cancro, para depois viver uma vida com toda a dignidade na prisão. Assim vale a pena ser Americano".

Mas, para mal dos pecados de Doyle, o seu cancro melhorou. E isto significa, como é óbvio, que a sua execução voltou a ser considerada constitucional, recordo que 30 anos depois do crime que originou a sentença. Se alguém conhecer um exemplo melhor para a expressão "não morres do mal, morres da cura", que me diga. O dia 26 de Fevereiro de 2018 foi a data escolhida para aplicar o castigo ao condenado, no cadafalso de uma prisão de Holman na Sweet Home Alabama, onde o céu é tão azul e as injecções letais estão fora do prazo, porque as empresas que produzem os fármacos se recusam a vendê-los para este fim (2). E fármacos fora de prazo dão resultados bem catitas, como o de Clayton Lockett em 2014 que foi, segundo o próprio advogado de defesa, "torturado até à morte", em vez de ter sido executado de forma "mais humana". Estão a ver? Eu bem disse que vinha aí estupidez da boa.

Voltando agora ao caso de Doyle Hamm e ao dia 26 de Fevereiro, o que era para ter sido uma execução simples, rápida e, acho que nunca me vou cansar de ver esta palavra neste contexto, Humana tornou-se num jogo de dardos entre dois bêbados. Porque o senhor foi picado pelo menos 12 vezes (e eu acredito que nesta exactidão exista a influência de álcool e do facto de os Americanos não saberem contar até números grandes) sem que se tenha conseguido encontrar uma veia, devido aos efeitos da quimioterapia. Entre os sítios tentados contam-se os tornozelos, as virilhas e os gémeos, sendo que todas estas tentativas falhadas resultaram em vários hematomas e num Doyle Hamm que saiu da sala de execuções "manco e terrivelmente dorido".

Há histórias em que mais vale não mexer para não estragar. É o caso desta, mas não resisti.

(1) https://www.publico.pt/2018/02/26/mundo/noticia/execucao-nos-estados-unidos-suspensa-por-dificuldade-em-encontrar-veia-do-condenado-1804451

(2) https://www.publico.pt/2016/05/14/mundo/noticia/mais-nenhum-medicamento-da-pfizer-sera-usado-em-execucoes-1731998

(3) https://www.publico.pt/2014/04/30/mundo/noticia/clayton-devia-ter-morrido-por-injeccao-letal-e-acabou-torturado-ate-a-morte-1634184