O Pior Marketing do Mundo - Que Estrabucho É Este?
- Filipe Pires
- 12 de fev. de 2018
- 3 min de leitura

Alguém vá ao Vaticano dar lições de marketing, por amor de Eusébio.
Espanta-me como é que ainda há pessoas que se atraem por uma religião (ou por todas, já que estamos aqui), que em 2018 anos tem como único bom trabalho um calendário, e que nem com esse calendário conseguiu aceitação universal. Porque se há quem conte os anos a partir do nascimento de um barbudo em Belém, outros preferem contá-los a partir do nascimento de um barbudo em Meca, isto para falar das duas maiores potências. Se o Mundo se aperceber da importância dos barbudos para a calendarização, prevejo vida difícil para os funcionários da indústria da estética masculina e para quem gosta da piada: "quando é que fazes anos? É para te oferecer uma lâmina!"
E o pior é que, a partir do calendário, foi sempre a descer. Tudo bem que não havia muito para descer a partir desse modesto pico de utilidade, mas a continuar assim o Vaticano pode muito bem vir a passar por um processo de "libertação" levado a cabo pelos Estados Unidos, porque se arrisca a encontrar petróleo. E falo apenas no Vaticano porque os países que chamam outro nome à mesma entidade divina já foram arruinados, perdão, libertados.
Ora vejamos. Em 2018 anos, a igreja católica Romana conseguiu penhorar (ou, se preferirem, pôr no prego) o homem que supostamente era filho da entidade que essa mesma igreja considera suprema e proibir o progresso científico não sei muito bem porquê, mas talvez seja porque a ignorância é uma bênção e é falta de educação recusar presentes. Conduziu ainda o mesmo tipo de guerra que hoje tão largamente critica - a guerra contra os infiéis da sua religião - e fez Hitler parecer um pintor com umas ideias um bocadinho radicais quando, durante os 600 anos de Inquisição, matou pais e filhos em nome do Espírito Santo. Eu não acredito em bruxas, mas graças a estes meninos quase que deixou de as haver.
Como se isto não bastasse, o Cardeal Patriarca de Lisboa resolveu também que tinha coisas para dizer, respeitando essa tradição bem Portuguesa de chegar tarde e más horas a tudo o que é moda estrangeira. De acordo com o desorientado Cardeal D. Manuel Clemente, é boa ideia que os católicos divorciados voltem a casar-se, desde que exista controlo a nível de marotices (1) e (2). Esta ideia é apoiada e defendida por Rui Pedro Carvalho, director do serviço Pastoral Familiar de Lisboa, explicando o senhor, e juro que estou a citar: "Aquilo que se propõe é que para viver nesta comunhão total vivam como irmãos, que vivam em continência" (3). Ou seja, está tudo muito bem se quiserem casar e dar uns cobres à casa, mas folia da boa e libertinagens é que já não pode ser. Há que ter preceitos e cuidados, porque senão anda tudo ao deus-dará. A cereja no topo do bolo é sem dúvida a base para esta defesa e para este conjunto de orientações. Eu gostava de estar a brincar, mas a base é um texto escrito em 1981 por Karol Wojtyla (4), o Papa João Paulo II, que foi um homem com uma articulação de palavras tão incompreensível como o seu próprio nome.
Talvez a divisão mais correcta não seja entre crentes e incréus, mas entre crentes e incrédulos. Porque com este marketing, custa a crer que alguém consiga ser crente.
(1) https://www.publico.pt/2018/02/08/sociedade/noticia/recasados-catolicos-devem-ser-aconselhados-a-viver-como-irmaos-1802394
(2) Aconselhável a quem sofre de insónias: http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/index.php?id=8626
(3) http://observador.pt/2018/02/08/abstinencia-sexual-nao-e-d-manuel-clemente-quem-aconselha-e-o-papa-joao-paulo-ii/
(4) http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_19811122_familiaris-consortio.html
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