A Bifana - Que Estrabucho É Este?
- Filipe Pires
- 18 de dez. de 2017
- 2 min de leitura

Quem estiver à espera de uma metáfora inteligente sobre como somos carne para ser devorada entre o papo-seco do capitalismo e da governação populista, pode parar de ler agora. Quem estiver a pensar que vai ler sobre o facto de as nossas vidas só se gramarem com vinha-de-alho e mostarda para disfarçar o sabor gorduroso do passar dos dias, é melhor procurar ajuda. E aqueles malucos que pensam que vem de lá uma piadola de judeus também podem tirar o cavalinho da chuva.
Não, isto hoje é mesmo sobre bifanas. Porquê? Primeiro porque me deixam e segundo porque a bifana é uma coisa que me dá que fazer, principalmente pelo nome. O nome "bifana" pressupõe que existem, pelo menos, uma "unifana" e uma "trifana". E ninguém no seu estado normal pede uma "trifana". Uma "unifana" é mais normal e já todos a pedimos, principalmente àquela hora que vem antes do nascer do dia e em que uma roulotte é um oásis no deserto da calçada. Já toda a gente disse a célebre frase:
"'Eró munifana, oh fachavôr! Hic!"
Mas uma "trifana" nunca. A distinção podia (e devia) ser feita pelo número de bifes que se põe no pão, mas aí uma das maiores instituições da culinária Portuguesa ficava com um nome francamente parvo. Para além disso, era simples enganar a clientela que a pede quando já vê a dobrar e que é quase toda. Era também possível distinguir esta iguaria pelo nível de profissionalismo de quem a faz, mas algo soa mal quando se diz, quase ao romper do dia:
"Antes de ir para casa, vamos todos ao senhor das profanas para ir tudo dormir mais contente!"
Outra coisa que me tira o sono em relação a este nome é a sua origem. Porque parece o nome que se dá a um prato para consolar quem foi assaltado (ou "fanado") duas vezes no mesmo dia. Acredito plenamente e até prova em contrário que o nome bifana surgiu numa conversa deste género:
Pessoa 1: Nem imaginas o que me sucedeu hoje.
Pessoa 2: O que foi?
P1: Imagina tu que, na faina da minha vida diária, tive de ir aos balcões de atendimento da Segurança Social e das Finanças.
P2: E depois o que sucedeu nessas dependências do Estado?
P1: Disseram-me que tinha de pagar em cada uma dessas dependências. Cerca de um quarto do meu ordenado ficou entre esses dois serviços de atendimento.
P2: Come então, para que te consoles de teres sido bi-fanado, esta sandes de carne de porco com condimento de mostarda. Verás que te sentes melhor.
P1: Sinto-me de facto melhor. Façamos deste o prato oficial de quem é fanado duas vezes no mesmo dia e chamemos-lhe "bifana".
E pronto. Agora que já desperdicei o vosso tempo, vou tratar de alimentar a fera. Com o quê? Com uma bifana, pois claro.
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