Ofensivo - Que Estrabucho É Este?
- Filipe Pires
- 20 de nov. de 2017
- 3 min de leitura

“Censorship is telling a man he can't have a steak just because a baby can't chew it.” - Mark Twain.
"Never underestimate the power of stupid people in large groups." - George Carlin.
Estamos no século XXI. Faz todo o sentido que a frase do Sr. Twain, dita há literalmente 200 anos, continue a ser usada. Faz todo o sentido que, no suposto pico da evolução civilizacional, tenhamos que nivelar o pensamento por baixo, por existir gente com pouca (tão pouca) maturidade emocional e que precisa de almofadas em todas as esquinas, para não fazer dói-dóis. E acima de tudo, faz todo o sentido que algo não possa ser dito porque é ofensivo. Porque afinal de contas, toda a gente tem o direito a sentir-se ofendido e a ser protegido dos meninos maus que dizem coisas que eles não gostam.
Sendo que estes são textos de humor, há outra limitação a ter em conta. Por enquanto esta página só é visitada por gente inteligente, mas quando o público começar a crescer esse número vai começar a diminuir. É a ordem das coisas, a lei dos grandes números, a natureza humana ou seja lá o que for que lhe queiram chamar. Muita gente em pouco espaço (virtual ou físico) costuma trazer os piores de nós ao de cima e por isso, quando esta página chegar onde queremos que ela chegue, eu vou ter que me preocupar também com os limites do humor.
Nessa altura vou poder deixar de falar, por exemplo, em atrasados mentais, porque os atrasados mentais que lerem estes textos vão ficar ofendidos. Já os deficientes motores e psíquicos vão ler e dizer que rir de uma situação complicada como a deles ajuda a torná-la mais suportável. E já que falamos de atrasados mentais, posso dizer adeus às piadas sobre quem pratica violência doméstica. Quem bate na família merece ser protegido da crítica, para não se sentir ferido na sua susceptibilidade, uma coisa que toda a gente tem mas não sabe bem o que é. É um bocado como a solidariedade, esse palavrão que enrola a língua e que é susceptível de não resultar em nada.
E se aqui há semanas falei sobre pedofilia, o sucesso também me vai impedir de a abordar pelo lado cómico. Vou passar a ver este assunto pelas costas, por assim dizer. Quem abusa de crianças com certeza não quer ver o seu nome arrastado pela lama só para arrancar gargalhadas e tem o direito a sentir-se ofendido com elas. E a última coisa que se pretende aqui é facilitar a crítica a quem comete um crime, vendo-o por um lado que ridiculariza o criminoso. Pretende-se, mas é última.
E livre-me eu de algum dia gozar com uma vítima! Aí sim é que vamos ter o bom e o bonito. Eu que nem pense em puxar alguém do chão para onde este Mundo de coitadinhos nos empurra, porque sem coitadinhos não há "Gosto" em fotos e sem "Gosto" em fotos não há massagens ao ego de quem as partilha. Era o fim da indústria da fisioterapia egocêntrica e, mais grave, acabava-se com o "1 Like = 1 Prayer", "Gosto = Respeito", "Compartilhe para que toda a gente veja" e, o meu preferido, "1 Gosto = 0.10€ para ajudar". Se acabassem com tudo isto, depois era a altura de alguém ter que fazer alguma coisa.
E ninguém "Gosta" disso.
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