The Roof Is On Fire. E o Resto da Casa Também - Que Estrabucho É Este?
- Filipe Pires
- 23 de out. de 2017
- 2 min de leitura

O chão está negro, o céu está negro, o que está no meio dos dois está laranja. E negro.
Não é uma adivinha nem houve nada a cair no chão e a ficar amarelo. Também não é uma metáfora sobre o futuro, quanto mais não seja porque não tenho uma boa forma de ligar o laranja a essa metáfora. É o que temos por todo o lado neste interminável Verão de 2017: terra queimada, fumo e chamas.
A táctica de terra queimada de quem quer o poder depois de mostrar uma completa inaptidão para o ter e que, depois de mergulhar de cabeça em medidas que visavam o benefício de todos menos do povo, recorre ao populismo para o ganhar de volta. Pessoas que afundaram Portugal ao ponto de ninguém se preocupar com os incêndios a dizer que só não fizeram pior porque não tiveram oportunidade (1), ou que há desnorte no governo (2) quando participaram numa das mais macabras dança das cadeiras da nossa História faz tanto sentido como um partido de extrema direita em África.
Fumo é o que sai das cabeças de quem pensa na prevenção destas situações (se é que há alguém a fazê-lo) e que ainda funcionam a carvão. O que é óptimo, porque carvão é o que temos mais neste momento. Se calhar é agora que alguém vai ter uma boa ideia para evitar que todos os anos tenhamos o País a arder, mesmo que seja quando já não há nada para arder. Só espero é que, a pensar tanto, não venha ninguém dizer que está cansado, principalmente os governantes que não tiveram férias durante a pior época de incêndios da nossa História. Deixa-me lá bater na madeira para espantar esse azar... Ups! Já não há madeira! A primeira ideia para pôr trancas em casa arrombada é avançar com o cadastro das florestas o mais rápido possível. Não acho que faça falta muita pressa, porque a única floresta que sobrou para ser cadastrada consiste em dois ramos de esteva e todos os eucaliptos, que não morrem até que nos matem todos de seca ou de acidentes de carro.
E finalmente as chamas, que só afectaram quem menos interessa no meio disto tudo: as pessoas que ficaram a arder. Um filme de terror que contou com participações especiais e discursos inflamados de políticos em ano de eleições e que foi transmitido (só) em horário nobre, com cobertura e "jornalismo" que em nada visaram aumentar as audiências à custa da dor alheia. Desde reportagens ao lado de cadáveres até um presidente de câmara a ser agredido, tudo serviu como notícia. Resta-nos aguardar que, depois de traçados todos os perfis psicológicos, de feitas todas as alegações de insanidade e de ter sido dada toda a medicação para convencer um criminoso de que é maluco, seja também notícia o facto de que um (nem que seja só um) deles foi preso.
Se pudesse, esperava por isso à sombra da bananeira.
(1) http://24.sapo.pt/atualidade/artigos/assuncao-cristas-quando-fui-ministra-nao-aconteceu-nenhuma-tragedia-em-portugal-com-estas-proporcoes
(2) http://24.sapo.pt/atualidade/artigos/incendios-passos-coelho-acusa-governo-de-falta-de-acao
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